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Dica IBDFAM: Flor de Gume fala da luta de três gerações de mulheres em 37 contos
“Não sei como é a experiência de viver em uma sociedade em que não me sinta afetada por ser mulher e ver todos os dias que a vida nos castiga de diversas formas”, reflete a escritora Monique Malcher, que reuniu em Flor de Gume (Editora Jandaíra, 2021) histórias de três gerações de mulheres fortes, que perpassam situações caras ao ordenamento jurídico brasileiro, como alienação parental, violência doméstica e abuso.
Vencedora do 63º Prêmio Jabuti, Monique lembra que desde 2015 já se interessava em pesquisar sobre esses temas. “Convivi em projetos na academia com muitas mulheres que pesquisavam ou que passaram de alguma forma por essas violências. Também recolhi depoimentos de mulheres de minha família ou próximas de algum modo, mães que relatavam terem sido afastadas de suas crianças ou que sofriam dentro de casa uma espécie de cárcere.”
A escritora relata que durante o seu processo criativo essas peças se juntaram em sua mente como um mapa mental da história que gostaria de contar. “Contos que se interligassem, mas que passeassem pela história de Silvia que conforme ia crescendo contaria sua história para os leitores. Mostrando que mulheres não são vítimas, mas estão em situação de violência. Afinal, essa não é uma condição definitiva, podemos com ajuda sair dela.”
Ela define a literatura como “uma respiração, um sentir que é capaz de oxigenar tudo. Que existe para levantar mais questões do que respostas, mas talvez sejam as questões que realmente nos movem."
Para Monique, pessoas transformam uma sociedade, e, “pessoas tocadas por um livro começam a se questionar sobre muita coisa. Por isso insisto em dizer que meu livro é mais útil e feliz em sala de aula, porque a educação é esse motor de transformação.”
Questões universais
Flor de Gume se passa no Pará, mas Monique Malcher destaca que a literatura é universal: “Falo sobre sentimentos que atravessam diversas mulheres e crianças em diferentes pontos do mundo.”
“Mas é muito importante entender que por conta de políticas públicas, ou melhor, da falta de algumas, e também por conta de um processo violento de colonização na Amazônia, o ser e estar mulher no norte, e especificamente no Pará, se dá de forma diferente. Precisamos entender os diferentes mecanismos para saber como e por onde auxiliar as mulheres nesse processo de libertação”, frisa a autora.
Conexões
No Spotify há uma playlist associada ao livro. “As pessoas gostam de ouvir aquilo que ouvi enquanto escrevia, mas enquanto salvava as músicas pensei mais em registrar momentos de criação”, esclarece.
“Escrevo sempre ouvindo música, entendo que ela dita o ritmo de minha escrita e ajuda na ambientação de minhas cenas. Odeio o silêncio, que me parece um grito, mas talvez isso seja porque nunca tive silêncio o bastante para escrever”, lembra a autora.
No Instagram, Monique revela como o preconceito atravessa sua carreira. Segundo ela, o Prêmio Jabuti veio como um respiro de tantos anos de luta. “Abriu um lugar em que tenho sido, na medida do possível, mais ouvida. Pretendo usar esses espaços para falar sobre meu trabalho e sobre a coletividade que segue unido a isso tudo. Não estou só na escrita, estou sempre acompanhada de outras mulheres independentes artistas que seguem na luta.”
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