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Número de refugiados chegou ao recorde de 82,4 milhões em 2020, em meio à Covid-19

Em meio à pandemia da COVID-19, o número de pessoas fugindo de guerras, violência, perseguições e violações de direitos humanos em 2020 subiu para quase 82,4 milhões, de acordo com o relatório divulgado pela Agência da Organização das Nações Unidas para Refugiados – ACNUR. Houve um aumento de 4% em relação a 2019, quando o índice foi de 79,5 milhões, o maior verificado até então.
Segundo o levantamento anual, divulgado na semana passada, ao final de 2020 havia 20,7 milhões de refugiados sob o mandato da ACNUR. Do número total, 5,7 milhões são palestinos, enquanto 3,9 milhões são venezuelanos. Há ainda 48 milhões de pessoas deslocadas internamente, ou seja, dentro de seus países. Adicionalmente, 4,1 milhões de pessoas solicitaram o reconhecimento da condição de refugiado.
Para a advogada Patrícia Gorisch, presidente da Comissão de Refugiados do Instituto Brasileiro de Direito de Família – IBDFAM, os dados são claros: “A pandemia não fez com que as pessoas continuassem nos seus países de origem, sendo perseguidas em razão de raça ou etnia, nacionalidade, religião, opinião política, pertencimento a um grupo social ou mesmo vindas de países onde há graves violações de direitos humanos”.
“Com a pandemia, houve a hipervulnerabilidade, que ocorre quando uma pessoa sofre com várias vulnerabilidades. Em um momento de pandemia, aqueles que estavam em trânsito ou mesmo aqueles que se sentem ameaçados são certamente hipervulneráveis”, destaca a especialista.
Impactos da pandemia
O levantamento da ACNUR indica que, apesar dos pedidos de cessar-fogo, os conflitos continuam a expulsar pessoas de suas casas. A pandemia reduziu as possibilidades de movimentação, mas os perigos de se manter onde se vive não são considerados menores do que aqueles causados pelo contágio do coronavírus.
No Brasil, foram vários os impactos da pandemia da Covid-19 no dia a dia dos refugiados, especialmente de ordem econômica, segundo Patrícia Gorisch. “Tivemos os lockdowns, que abalaram drasticamente o trabalho informal, justamente a principal fonte de renda da pessoa em situação de refúgio no Brasil”, comenta a advogada.
“Outro impacto importante foi a própria questão sanitária. Pessoas hipervulneráveis como os refugiados normalmente estão em situação de rua ou mesmo vivendo em cortiços, com várias famílias juntas. Essa aglomeração causa profundo impacto na transmissão do coronavírus”, observa Patrícia.
Caminhos de solução
A diretora nacional do IBDFAM aponta possíveis próximos passos para o acolhimento dessa população e enfrentamento dos problemas. “O Brasil tem que fazer um planejamento de política pública que efetivamente funcione, pois o país se comprometeu a isto e não vem cumprindo. Temos que ter o olhar dos talentos perdidos. Quantos talentos não são aproveitados no nosso país?”, indaga.
O planejamento é fundamental para a integração dessas pessoas. “Recebemos milhares de pessoas no país e não há o planejamento de recolocar essas pessoas no mercado de trabalho, dando um novo olhar à sua profissão. A diversidade cultural é importantíssima, como um verdadeiro fôlego no nosso país.”
Outros países podem servir de exemplo para as práticas a serem aderidas por aqui. “A Inglaterra está aplicando a teoria do Refugee Economies, assim como a Alemanha, que mesmo recebendo mais de um milhão de refugiados em um ano, conseguiu um aumento no PIB expressivo nos anos seguintes com integração verdadeira”, defende Patrícia.
“As pessoas refugiadas fogem de seus países de origem porque precisam. Querem um dia voltar, na sua grande maioria. Elas fogem para viver. Precisamos aplicar uma política de integração para que o Brasil cresça com esses talentos. Eles são jovens, muitos com estudo superior e prontos para o mercado de trabalho. Temos que olhar para o futuro lembrando do nosso passado: somos todos filhos, netos e bisnetos de refugiados e imigrantes. Agora é a nossa vez de retribuir o que fizeram por nossos antepassados.”
Confira, na íntegra, o relatório Tendências Globais de 2020, da ACNUR.
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