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“Ele a abraçou para nunca mais largar”
Oficial do Ministério Público, Alex Oliveira, 42 anos, e a esposa, a contadora Mônica da Conceição, 46, fazem questão de pregar a cultura da adoção. O casal procura incentivar outras pessoas a driblarem quaisquer preconceitos, assim como fizeram. Casados desde 2005, tentaram ter filhos. A princípio, sem acompanhamento médico. Entretanto, não obtiveram sucesso e, por isso, buscaram o auxílio da medicina. Foram testadas todas as possibilidades possíveis, de acordo com Alex. “[Tentamos] todos os tratamentos existentes. Remédio, inseminação artificial, fertilização in vitro etc.” O tão sonhado filho, porém, não veio.
A solução para o casal e a materialização do sonho surgiu por meio do Grupo de Apoio à Adoção Ana Gonzaga, o qual possui cinco unidades na Capital do Rio de Janeiro. Quem relata a história é o próprio Alex, hoje pai de dois filhos:
“Após tentativas frustradas de fertilização, descobrimos que minha esposa sofria de endometriose [doença caracterizada pela presença do endométrio - tecido que reveste o interior do útero - fora da cavidade uterina]. Foi realizada cirurgia para corrigir a doença e, embora a operação tenha sido bem-sucedida, não conseguimos engravidar. Então, propus à minha mulher que partíssemos para a adoção, pois nem ela nem eu tínhamos qualquer preconceito neste sentido.
Achamos que seria uma alternativa viável para realizarmos nosso sonho de sermos pais. Pesquisei em livros e na internet. Me informei, até que providenciamos os papéis para darmos entrada na habilitação [para adoção]. Começamos a participar das reuniões do Grupo de Apoio à Adoção Ana Gonzaga, em Madureira (RJ). Ali, a gente foi aprendendo o que realmente era adoção. A realidade das crianças disponíveis para serem adotadas junto aos abrigos do Rio; a história e a problemática causadas pelo uso de crack, em alguns casos; crianças com problemas físicos e mentais; outras negras; mais velhas, enfim… fomos colocados diante da realidade adotiva.
Depois que passamos a frequentar o grupo de apoio, nos convidaram a participar de outro grupo: o de apoio à adoção tardia, também do Ana Gonzaga. As reuniões eram coordenadas pela Lúcia [Fátima Garcia de] Carvalho, que, posteriormente, se tornou nossa grande amiga. Foi ela quem nos apresentou essa questão da adoção tardia. Os encontros abriram nossos corações para a possibilidade de adotar crianças mais velhas, inclusive grupos de irmãos. Elas [as reuniões] abriram nossos olhos. Então, começamos a pensar na possibilidade com muito carinho.
Lá, tivemos acesso à busca de pais para crianças com perfil ou necessidades que, em tese, dificultavam a adoção - denominada de Busca Ativa. Por meio do programa, fomos convidados a conhecer dois irmãos que estavam abrigados há um ano. Resolvi conhecê-los, sem nenhum tipo de compromisso. Eu não tinha muita perspectiva de que aquilo fosse resultar em adoção, devido até à impossibilidade de minha esposa comparecer, naquele dia, à instituição em que os meninos estavam abrigados. Fui sozinho. Era uma segunda-feira. Me recordo bem.
Quando bati os olhos naqueles dois irmãozinhos de mãos dadas, com uniforme da escola e o olhar meio perdido, soube, naquele momento, que minha procura havia terminado. Claro que a decisão não foi tomada naquele instante, no impulso, até porque a Mônica não estava presente. Me aproximei deles e procurei conversar. O João Antônio, o mais novo, não deu muita ideia. Já o Luiz conversou comigo, fez várias perguntas, falou de seu interesse por carros - descobrimos ali um gosto em comum -, e nos identificamos muito! Tivemos uma primeira aproximação muito boa, e quando eu estava indo embora, perguntei se ele queria que eu voltasse. Ele disse que sim, que gostaria muito de me ver novamente. Saí de lá com o coração acelerado.
Dois dias depois, conseguimos autorização para visitar o abrigo, para que minha esposa também pudesse conhecê-los. Fomos. Chegamos lá e, ao nos ver, o Luiz logo veio, falou conosco e nos abraçou. Daí perguntei a ele pelo João Antônio, e pedi para chamá-lo, pois queria que a Mônica o conhecesse. Porém, antes que o irmão fosse procurá-lo, percebi que o garotinho já vinha descendo as escadas e, assim que nos viu, olhou na direção da minha esposa e exclamou: ‘Vocês vieram me buscar! Espera aí, que eu vou com vocês. Só um minutinho. Não vão embora, não’. Ele subiu de volta, calçou uma sandália [bem velhinha, inclusive] e desceu correndo novamente. Aí eu vi, naquele instante, aquela criança se identificar tremendamente com minha mulher. Ele a abraçou e disse: ‘Vou embora com vocês’. Ele a abraçou para nunca mais largar. Percebi ali o encontro de duas almas gêmeas. Tudo viria a se confirmar com nossa convivência. Muito embora, obviamente, não tenhamos os levado para casa naquele mesmo dia.
Dali em diante, não nos afastamos mais. Demos prosseguimento às visitas e recebemos autorização para fazer passeios [externos] com eles. Algum tempo depois, foi permitido que dormissem na nossa casa nos finais de semana, até que pudemos solicitar a guarda de ambos”. O sorriso no rosto dos integrantes da família resumem o desfecho desta história.
Mônica, Alex e seus filhos, João Antônio e Luiz
Foto: Divulgação
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