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Documentário traz tema da adoção
Divulgação: Documentário
“A caminha de Maria Alice já está pronta”, conta Toni ansioso para adotar a criança que ele ainda nem conheceu. Toni e David já tem a guarda provisória de Alisson, hoje com 10 anos de idade e que começou a fazer parte da família há um ano. “Alisson não vai ficar com ciúme de Maria Alice. Se ela não souber escrever, ele já se dispôs a ensinar. Ele está indo muito bem na escola”, explica Toni que espera a sentença do Supremo Tribunal Federal sobre a guarda definitiva do menino e que tem esperanças de poder adotar também a Maria Alice.
Sentimentos, dificuldades, desejos. Essa é uma das histórias e paisagens que compõe o documentário “Família no Papel” das diretoras Fernanda Friedrich e Bruna Wagner exibido dia 30 de junho no Rio Festival Gay de Cinema. “Foi emocionante participar do documentário e poder rever toda a nossa vida. Foi como sentir todas as emoções novamente”, ressalta Toni . Ele conheceu David na Inglaterra e estão juntos há 23 anos. De lá pra cá, foram várias lutas: a legalização da permanência de David no Brasil, o reconhecimento da união estável e, agora, um outro e importante passo, a adoção.
Toni e David conhecem de perto as barreiras legais que ainda emperram os processos de adoção por homossexuais. O reconhecimento da união estável homoafetiva em todo o território nacional pelo Supremo Tribunal Federal, no ano passado, representou um grande avanço para a adoção homoafetiva no país, já que um dos pré- requisitos para a adoção é o reconhecimento de uma união estável. A grande questão é que esse reconhecimento não é uma lei e, portanto, pode variar de acordo com cada tribunal. Esse é o caso de Toni Reis Reis, presidente da AGBLT, e David Harrad que, mesmo tendo a união estável reconhecida, ainda não conseguiram a guarda permanente de Alisson.
Mesmo com a ausência de legislação para a garanta dos direitos homoafetivos, fatos importantes estão acontecendo em todo o país. Um exemplo foi a celebração do reconhecimento judicial de 50 uniões estáveis homoafetivas pelo Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro que abriu as portas de sua escola de magistratura no centro da capital fluminense para a celebração festiva das uniões.
Novas abordagens
O documentário trata da rotina de casais homoafetivos com seus filhos trazendo a tona a simplicidade e a naturalidade de suas relações. E é justamente no campo dos sentimentos e das relações familiares que se constrói sua narrativa. De acordo com a diretora, Fernanda Friedrich, a ideia era trazer uma nova abordagem para o tema da adoção homoafetiva. “A gente quis chegar perto das pessoas. Não tem o mesmo efeito ouvir, por exemplo, uma psicóloga falar que um casal homossexual não trará prejuízos para a criança do que ver a alegria de uma menina que nunca tinha visto a luz do sol junto com seus pais e perceber a evolução dela com sua nova família”, explica. Ela acrescenta ainda que, durante as filmagens, buscaram famílias de diferentes estados para abordar como são as relações familiares homoafetivas em todo o Brasil.
A ideia do filme surgiu durante o término do curso de jornalismo das diretoras. “As pessoas nos questionavam o porquê de fazermos um filme sobre o direito de adoção homoafetiva se somos heterossexuais. Mas acreditamos que esse é um assunto de todos e não apenas dos movimentos LGBTs”, completa.
Apesar das dificuldades encontradas pelos casais, Fernanda diz que houve muitos avanços principalmente com relação à aceitação da sociedade. “Houve casos de escolas que se adaptaram para comemorar o dia das mães e de casais que fizeram festa para o filho e contou com a presença de todos os colegas de classe”, explica Fernanda ao falar dos principais receios dos pais homoafetivos.
Diversidade em forma de festival
De 29 de junho a 8 de julho de 2012 acontece o Rio Festival Gay de Cinema. O festival internacional de filmes LGBT traz ficção, documentário e experimental, em longa e curta metragens, brasileiros e estrangeiros. Nessa edição, foram selecionados 12 longas e 43 curtas-metragens brasileiros. De acordo com Alexander Mello, curador da mostra, a ideia foi criar um festival que trouxesse um pouco do universo LGBT indo além da militância sobre a causa. “O festival é para todos, o recorte LGBT está apenas na curadoria dos filmes”, comenta. Alexander ressalta ter optado por filmes diferenciados: comédia, romance, ficção, documentário para atrair o grande público. E o objetivo tem sido cumprido. As sessões estão lotadas e têm contemplado diferentes tipos de público, inclusive os heterossexuais. “Teve um rapaz que trouxe a família toda para assistir os filmes. Essa foi a forma que ele encontrou de apresentar para a família a sua opção sexual”, relata.
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