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Brasil teve recorde de feminicídios no primeiro semestre de 2022
O Brasil bateu recorde de feminicídios no primeiro semestre de 2022. De acordo com dados publicados pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 699 casos foram registrados entre janeiro e junho, o que representa uma média de quatro mulheres mortas por dia.
Em 2019, no mesmo período, foram registrados 631 casos. Dois anos depois, em 2021, 677 mulheres foram assassinadas em decorrência da violência de gênero.
Os dados foram coletados com as pastas estaduais de Segurança Pública e representam somente os crimes que chegaram a ser registrados.
Entre as regiões do país, o Norte liderou o aumento, com 75% a mais do que no primeiro semestre de 2019. Oeste, Sudeste e Nordeste registraram crescimento de 29,9%, 8,6% e 1%, respectivamente. Apenas na região Sul foi registrada uma queda de 1,7% dos casos.
Os dados coletados pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública acompanham a promulgação da Lei do Feminicídio (13.104/2015), que considera o assassinato que envolve violência doméstica e familiar, menosprezo ou discriminação à condição de mulher.
"O primeiro ano completo que nós temos de estatísticas no Brasil é 2016. Contudo, em 2016 e em 2017, ainda temos um movimento nos Estados de adaptação à nova legislação. Dados mensais dispomos a partir de janeiro de 2019 para todo o mês. Mas, o que os números indicam? Olhando os dados de janeiro a junho de 2022, se mantida essa tendência, nós teremos um novo recorde de feminicídios, inclusive quando fechar o ano de 2022. Infelizmente, tudo aponta para um crescimento da violência letal contra meninas e mulheres em decorrência do seu sexo, da sua condição de gênero", aponta Samira Bueno, diretora-executiva do Fórum, em entrevista ao G1.
Condição social
A juíza Ana Florinda Dantas, vice-presidente da Comissão de Violência Doméstica e Gênero do Instituto Brasileiro de Direito de Família – IBDFAM, cita o isolamento social como possível causa para o aumento dos números. “Ainda em 2022, temos reflexos da pandemia que levou muitas famílias ao confinamento, o que trouxe o estresse do convívio ao qual muitos estavam desabituados. Quando este convívio não é voluntário, nem positivo, traz à tona os problemas não trabalhados.”
“As separações, por vezes, causam inconformismo na outra parte, e muitas reações violentas são registradas. O feminicídio é o mais grave, mas posso também mencionar o fato de que os divórcios e desate das uniões estáveis têm-se mostrado muito mais litigiosos que o costume”, aponta a especialista.
A juíza também considera outro fator para o aumento dos casos: a cultura da discriminação da condição social da mulher. “Diante do impasse na convivência familiar, quando esta toma a atitude de romper o relacionamento, depara-se com o sentimento de rejeição e perda de controle do parceiro que, muitas vezes, recorre ao crime como forma de vingança ou reparação social.”
Ana Florinda entende que a falta de políticas governamentais pode ter influenciado nos dados, mas pondera que o endurecimento de penas e maior punibilidade no campo penal não são a solução, “uma vez que o criminoso, motivado pela passionalidade, não reflete sobre as consequências do crime”.
“O enfrentamento deve passar pela educação desde a infância de homens e mulheres para priorizar a cultura da paz, o respeito mútuo e a valorização da família como conceitos primordiais na sociedade”, conclui a juíza.
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