Direito de Família na Mídia
Reportagem analisa o efeito de personagens gays em crianças
22/01/2006 Fonte: Revista do Jornal O GLOBOEnsinar as crianças a respeitar e conviver com a diversidade sexual parece ser a intenção dos criadores de alguns famosos personagens infantis atuais. De acordo com a edição de 15/01 do jornal O Globo - Revista , encarte publicado semanalmente, figuras como Harry Potter, Nemo e Bob Esponja têm comportamento gay e a popularidade deles ajuda as crianças a aceitarem melhor as diferenças.
Com o título "Gays no imaginário infantil", a reportagem sustenta que alguns intérpretes consideram Harry Potter homossexual por usar objetos ligados ao universo feminino, como vassoura e varinha de condão. Também encontram traços homossexuais na relação de amor e medo de Nemo por seu pai, na amizade entre Bob Esponja e Patrick, que vivem brigando e chegaram a adotar uma lesminha num dos episódios; sem contar o já consagrado Tink Wink, o Teletubbie roxo que se transformou em ícone gay.
Entretanto, no Brasil, um grupo de ativistas gays recorreu à Justiça contra Maurício de Souza, criador da Turma da Mônica. Segundo eles, as revistas têm "episódios de preconceito explícito", que "não devem ser usados como material didático". O grupo considerou discriminatório termos como "frutinha", "mulherzinha" e "florzinha", encontrados em alguns quadrinhos. Maurício de Souza se defende das acusações e diz que nada impede de criarem um personagem gay no futuro.
Respeito às diferenças - Todos esses personagens, segundo a Revista, fazem com que os pais se confrontem com o desafio de dar aos filhos uma educação sem preconceitos cada vez mais cedo, já que a escolha sexual também está mais precoce.
Ela cita um estudo publicado pela "Time", comprovando que se nos anos 60, a homossexualidade era percebida pelo rapaz a partir dos 14 anos em meninos e aos 17 anos em meninas, nos anos 90 passou para 10 e 14 anos, respectivamente. De acordo com a revista americana, os adolescentes do século 21 encaram a discriminação como um desvio tão grave quanto o racismo.
Assinada por Letícia Helena e Tania Neves, a reportagem sustenta ainda que a televisão é outro meio fomentador dessa questão. Várias novelas já mostraram casais gays e, agora, atores travestidos estão ganhando a simpatia das crianças. Na literatura infantil, a questão está mais recorrente, com vários títulos publicados sobre o tema. "O conhecimento poderia levar as crianças a serem mais compreensivas com os outros e a perceberem que as diferenças entre os indivíduos devem ser respeitadas", defende a escritora Lílian Vinhas, que venceu o 1º Concurso de Contos Infantis sobre Diversidade Sexual, promovido por uma organização argentina.
Ao final, a reportagem traz análise de educadores, que advertem para o cuidado dos pais para ensinarem as crianças o respeito às diferenças. Advertem ainda a ficarem atentos para os sinais que a criança deixa transparecer sobre sua sexualidade. "O que temos notado é que, cada vez mais, os pais estão tolerantes. Parece que há uma aceitação tácita quando a criança tem dois pais ou duas mães", observa a educadora Cristina Michalick.
O mais importante, conclui a reportagem, é marcar bem a diferença entre amizade e atração sexual. Para isso, todo cuidado é pouco já que, na infância, esses sentimentos praticamente se confundem.