Direito de Família na Mídia
Pai abraça filho, é confundido com gay e tem orelha arrancada
21/07/2011 Fonte: Jornal O Tempo
Pai e filho estavam abraçados quando um grupo de pelo menos sete rapazes aparentando cerca de 20 anos abordou os dois perguntando se eles eram gays. Garrido disse que não, e os agressores foram embora. Menos de dez minutos depois, ele e o filho foram surpreendidos com ataques pelas costas. Garrido teve parte da orelha decepada.
"Eu e meu filho estávamos esperando a minha namorada, que tinha ido ao banheiro. Eles vieram por trás e começaram a bater na gente. Tomei uma pancada na cabeça e caí. Quando levantei, só ouvia as pessoas gritando que tinham arrancado a minha orelha", disse Garrido, ainda assustado com a violência do grupo.
"Se um pai abraçado com o filho é agredido por acharem que os dois são gays, imaginem o que fariam se fôssemos gays? Nós estaríamos mortos", diz ele, lembrando que os agressores gritavam que ali não era lugar de "viado".
"O que fizeram é um absurdo. Ninguém tem nada a ver com a opção sexual das outras pessoas. É preciso fazer alguma coisa para tentar diminuir essa violência contra os gays", diz Garrido, pai de quatro filhos.
Garrido usa o pequeno caminhão que tem para fazer fretes ou vender sapatos na zona rural da cidade onde mora com a família. A pedido dos filhos, aceitou sair naquela noite para assistir aos shows de música sertaneja. Ele estava com o braço sobre o ombro do filho quando sofreu o ataque. Depois de agredirem pai e filho, o grupo deixou o centro de exposição em meio à multidão.
Ontem, um homem foi preso por suspeita de participar da agressão. Depois de confessar o crime, ele foi liberado, já que a solicitação de prisão foi negada pela Justiça. Outros dois suspeitos já foram identificados, segundo a polícia, e são procurados.
A Polícia Civil investiga se câmeras de segurança instaladas na festa registraram o momento da agressão. "Existe monitoramento interno lá. Então, a gente está tentando colher essas imagens para conseguir fazer uma filtragem e ver se a gente consegue, através delas, apurar o autor", disse o delegado Fernando Zucarelli.
Segundo ele, apesar de os depoimentos apontarem que a confusão começou porque pai e filho estavam abraçados, ainda não é possível dizer que se trata de um caso de homofobia. "Estamos apurando. Pelo que ouvimos até agora, isso não está bem claro".
Mini entrevista com Zeno Veloso,
Advogado e professor de direito, Zeno Veloso diz que teme o extremo, "o falso moralismo que convive com o denuncismo", e que teme pelo perigo de pessoas inocentes sofrerem com isso.
Devido aos casos de agressão pública nos últimos tempos, podemos dizer que a sociedade brasileira caminha para um comportamento doentio?
Generalizando, não. Com a evolução da sociedade, as pessoas estão assumindo a sua orientação sexual de maneira mais ampla. Proporcionalmente, aparece um número de pessoas para agredir essas pessoas. Há um grande número de pessoas radicais, sem dúvida. São nazistas. Adolf Hitler faz escola.
Em alguns países, o carinho público entre pais e filhos não é bem-visto. Essa mentalidade está atingindo o Brasil? Por quê?
Os homens são menos afetivos na nossa sociedade. No oriente, há países onde homens andam de mãos dadas. O problema não é o carinho.
Com tantos casos de pais abusando dos filhos, o carinho em público é algo que pode denunciar uma suspeita de crime?
Tudo tem limite. No nosso meio, carinho entre dois homens é menos aceitável do que entre duas moças. Há cidades onde moças andam de braços dados, por exemplo. Se o sujeito perceber que o filho está sendo beijado pelo pai com intimidade, com ingrediente sexual, aí saiu do limite da relação entre pai e filho, e vai para o comportamento criminoso. Meu medo, porém, é o extremo, o falso moralismo que convive com o denuncismo e temo pelo perigo de pessoas inocentes sofrerem com isso.