Direito de Família na Mídia
Mulheres negras marcham pelo fim do racismo e da violência
26/07/2018 Fonte: Agência BrasilMulheres negras de várias cidades realizaram atos e debates nesta quarta-feira (25) em razão do Dia da Mullher Afro-Latino-Americana e Caribenha.
Em São Paulo, uma marcha no centro da cidade reivindicou justiça e liberdade para as mulheres negras. A ativista Juliana Gonçalves, que faz parte do comitê organizador do ato, fala sobre as motivações da marcha e de outros atos programados para os próximos dias.
Sonora: “Nós vamos às ruas por nós, por todas nós e pelo bem viver, exigimos o fim da negligência do Estado. Então a gente vai pautar o genocídio do povo negro, o encarceramento que faz parte desse projeto de genocídio, que inclusive levou a números muito significantes de encarceramento feminino.”
Pesquisa recente divulgada pelo Ipea – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – mostra que nos últimos 10 anos a taxa de homicídios de mulheres negras no Brasil aumentou em média 15%, enquanto entre mulheres não negras esse mesmo índice caiu 8%.
No Pará, a taxa de mortes de mulheres negras cresceu acima da média nacional: um aumento de 92,8% na última década.
Em Belém, uma marcha organizada pelas Mulheres Negras Amazônidas partiu nesta quarta-feira (25) da Avenida Tucunduba até a Praça Benedito Monteiro, onde foi encerrada com apresentações artísticas.
Maria Malcher, do Cedenpa, Centro de Estudos e Defesa do Negro do Pará, destaca entre as pautas amazônidas a luta das mulheres negras contra os grandes empreendimentos.
Sonora: “Perseguimos um feminismo negro amazônico como condição de pertencimento e de emergência de um pensamento acerca de região, produzido por mulheres negras. Nós temos muitas comunidades tradicionais, indígenas, quilombolas, ribeirinhos afetadas pelos projetos de mineração, pecuários e que afetam a vida de quem vive na floresta.”
As causas do aumento da violência contra mulheres negras são tema de estudo de várias instituições públicas. A pesquisadora negra Maria Inês Barbosa, professora aposentada da Universidade Federal do Mato Grosso e consultora de organismos internacionais, considera que entre os fatores principais estão o racismo e a redução do investimento em políticas públicas.
Sonora: “A morte é o final, é o último ato, mas quando você vê ações como essa que vão colocar contraceptivos em meninas de 12 ou 13 anos que estão abrigadas em Porto Alegre, é isso. Você percebe que isso tudo faz parte da mesma forma de ver e de agir. A gente precisa quebrar efetivamente com isso.”
Para reduzir a violência contra a mulher negra, Diego Moreno, da Secretaria Nacional de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, defende que, além de investimentos, é necessário otimização do orçamento e integração das ações.
Sonora: “Em princípio, o que nós fazemos o contato direito com os ministérios, com inclusão no PPA dos respectivos ministérios de ações que visem combater essa violência. A gente prevê que no campo da saúde ações para combater as doenças que são prevalentes na comunidade negra, em especial a mulher.”
O Dia da Mullher Afro-Latino-Americana e Caribenha foi criado há 26 anos pela Rede de Mulheres Afrolatinas e Caribenhas. Em nota divulgada nesta quarta-feira (25), a organização destacou 2018 como um ano que ficará marcado pelo assassinato da vereadora Marielle Franco, no Rio de Janeiro.
A posse da costa-riquenha negra Epsy Campbell como vice-presidenta da Costa Rica foi ressaltada pela Rede de Mulheres Afrolatinas como uma inspiração para a continuidade das lutas.
Este mês, o Rio de Janeiro instituiu o dia 14 de março como Dia de Luta contra o Genocídio da Mulher Negra.
Há quatro meses, nesta data, a vereadora Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes foram assassinados. O crime segue sob investigação e é considerado por organizações internacionais um prova de como as mulheres negras estão mais vulneráveis à violência.