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Os cinco lados da moeda por Katia Maciel
14/12/2016 Fonte: Canal Contemporâneo1
Cunha, cunhado. O parentesco da palavra se resolve do outro lado da moeda. Temer, Temeritatem. Dois lados de uma só moeda, a moeda do golpe no Brasil. Fazer girar cara ou coroa não diferencia o resultado extremo de um sistema de trocas que levou a fragata ao naufrágio. Cabe a nós recolher as moedas como pistas de uma história ainda por vir.
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Piratas alcançam no fundo da costa brasileira tonéis e baús. Abertos a paus e pedras olhos saltam com o brilho embaralhado das moedas. Entre ouro e prata contornos de dois rostos perdidos, muito próximos entre si, assombram a imaginação daqueles famintos por riquezas. Presas as mãos de renomado pirata as moedas se espalham na leitura da maldição - Temiritatem, conhecida por ter dado fim e cabo a um paraíso agora perdido chamado Brasil.
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Irreal não é o outro lado do Real. Aqui na Terra Brasilis foram fundidos com diferentes metais. De Ouro Preto a Brasília conspiram as arquiteturas entre a perspectiva do ideal da usura para os outros e da fartura para os encantados pelas variações do metal. Entre eles dois mestres ourives cunharam Temeritatem como prova de que o irreal é mesmo real.
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Dizem que o real é sempre pela metade e ao meio. Por isto a moeda possui dois lados, para que haja lugar para a decisão e o acaso. Lançadas ao ar giram entre duas possibilidades antes do contato iminente com a mão ou com a terra, ou aonde quer que caiam. Por sorte avessa podem cair de pé como presa no canto da mão, na terra ou aonde quer que caiam, aí não vemos os lados. O mesmo acontece com as moedas que por acaso tenham dois lados diferentes, mas iguais.
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Dizem que o barqueiro cobra uma moeda para a entrada no outro mundo. Entre as flutuações do mercado e as artimanhas dos piratas brasilis aqui foi criada uma moeda que não é deste mundo.