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Dica IBDFAM: O Avesso da Pele enfoca família e raça para propor a valorização de cada indivíduo
O Avesso da Pele é o terceiro livro do escritor Jeferson Tenório e rendeu a ele o Prêmio Jabuti na categoria Romance Literário no ano passado. A história é sobre Pedro – filho de um homem morto vítima da violência policial –, que busca resgatar o passado e refazer os caminhos traçados pelo pai. O romance se insere em uma nova cena da literatura brasileira, com a valorização de narrativas e autores negros.
Segundo Jeferson Tenório, O Avesso da Pele dialoga com seus outros dois trabalhos, O Beijo na Parede (2013) e Estela sem Deus (2018). “Antes, eu não conseguia fazer essa associação direta, porque eu não tinha uma clareza quanto ao que eu estava produzindo. Quando cheguei em O Avesso da Pele, comecei a perceber, com meus outros dois romances, que havia um fio condutor.”
“Além da idade dos meus personagens, que são jovens, em formação e em aprendizado da vida, a questão racial e as relações familiares também aparecem bastante”, identifica o escritor, nascido no Rio de Janeiro e radicado em Porto Alegre. Para ele, sua mais recente criação parte dessa intersecção entre família e raça para propor a valorização de cada indivíduo.
Luta contra opressões
“Acredito que a literatura não tenha o compromisso de passar uma mensagem, mas de causar uma reflexão. Com O Avesso da Pele, acho que a reflexão que fica é de que as pessoas devem ser valorizadas por aquilo que elas são, não em função da cor da pele, do racismo. Temos que valorizar o que cada um tem dentro de si, seus sentimentos e conflitos.”
Temas como violência policial e intolerância religiosa estão presentes na história. Segundo Jeferson Tenório, a arte pode servir de aliada na luta contra variadas formas de opressão. “A arte tem esse caráter de contestação daquilo que a sociedade ainda insiste em causar, como a violência contra as minorias.”
“A arte pode ajudar nesse sentido de fazer com que as pessoas entendam, com mais clareza, o quanto essas minorias sofrem. Quando falo ‘minoria’, me refiro ao pouco acesso às políticas públicas e aos postos de poder e privilégio. O Avesso da Pele vem mostrando como a arte ajuda a enxergar as desigualdades com mais clareza”, pontua o autor.
Literatura acompanha mudanças
Também pautado por família e raça, Torto Arado, de Itamar Vieira Junior, foi o vencedor do Prêmio Jabuti, na mesma categoria, em 2020. “A recepção dessas obras mudou de uns 10 anos para cá. Tivemos uma mudança no leitor, que passou a procurar narrativas que contassem justamente essa parte do Brasil”, percebe Jeferson Tenório.
“Ouvíamos muito falar de uma literatura escrita por pessoas brancas e de classe média. De uns anos para cá, houve mais espaço para autores negros escreverem suas histórias, o que decorreu justamente da demanda de um público negro que busca por essas narrativas”, aponta o escritor.
Ele atribui esse fenômeno a uma série de fatores. “O primeiro que identifico é a entrada de pessoas negras na universidade. Temos um sistema de cotas que, se não deixou a universidade mais enegrecida, pelo menos a tornou mais heterogênea. Isso acaba propiciando também uma demanda por outras epistemologias. Sabemos que a universidade é um lugar de validação do conhecimento.”
“A ascensão de governos de extrema direita, no Brasil e no mundo, também fez com que houvesse uma reação contra esses regimes. Há então uma procura natural por outras narrativas que, de certa forma, representam uma reação a esses governos fascistas. Vejo que o mundo mudou e a literatura acompanha essas mudanças.”
O AVESSO DA PELE
Romance. Autor: Jeferson Tenório. Editora: Companhia das Letras. Saiba mais.
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