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CNJ lança cartilha infantil que aborda divórcio de pais
O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) desenvolveu uma cartilha lúdica para auxiliar crianças que estejam passando pelo divórcio ou separação de seus pais. O livreto possui uma história em quadrinhos - Turminha do Enzo – Meus pais não moram mais juntos. E agora? - que conta a história de um garoto que passa pela separação de seus pais.Ao longo do enredo, ele vai descobrindo que tudo tem seu lado positivo, e que seus pais continuarão a amá-lo mesmo morando em casas separadas. A publicação, disponível para download, traz ainda atividades que ajudam a criança a processar as informações aprendidas com a história.
Para a psicanalista Giselle Groeninga, diretora de relações interdisciplinares do Instituto Brasileiro de Direito de Família (IBDFAM), a importância desta iniciativa está na atenção que a criança deve ter como sujeito de direito. “Isto não significa colocar, indevidamente, a criança no centro da separação, que é o lugar dos adultos. Assim como o são as responsabilidades. A criança, como sujeito de direito — no direito inclusive de contar com os dois pais — é menos alvo da confusão entre a conjugalidade desfeita e a parentalidade.Esta continua para sempre. Isto faz com que o divórcio torne-se menos doloroso para as crianças”, explica.
Segundo Groeninga, o que era traumático para as crianças, e também para os pais, era a ideia de que, com a separação, a família acabava, ou se partia ao meio. De acordo com ela, essa ideia mudou com o conceito de família transformada — terminologia que, aliás, a cartilha bem utiliza. “Esta compreensão relativamente nova da família implica na distinção entre parentalidade e conjugalidade. O que se observa é que muitas vezes, quando se utilizava, e ainda se utiliza, a doutrina do Superior Interesse da Criança e do Adolescente, isso pode ser feito mais em nome dos adultos, que pegam uma carona, muitas vezes de forma inconsciente, nas fragilidades das crianças ou as usam para lidar com os ressentimentos, próprios dos adultos. Assim, todo cuidado é pouco com relação às sugestões que se possa vir a fazer”, aponta.
A psicanalista expõe que a influência positiva da iniciativa seria, então, o filho ter seu lugar reconhecido – não de centro do conflito, e sim o de ter seus sentimentos respeitados. “A cartilha pode ser boa como possibilidade em pensar a situação da separação dos pais, o que ela faz em grande parte. No entanto, há algumas sugestões de como lidar com os sentimentos que podem ser um tanto diretivas como, por exemplo, a ideia de que é possível se livrar da raiva fazendo exercício, ou de que se deva abraçar os pais e lhes dizer que os ama. Outro apontamento que vejo com certa restrição é o conceito de final feliz, o que pode ser um desejo mas não uma realidade, sobretudo presente. A capacidade da criança em esperar e confiar é mais restrita do que a dos adultos, e isto pode ampliar a frustração, a desilusão e a exclusão. Finalmente, uma ponderação quanto à comunicação da separação: ‘Nós estamos com um problema e não conseguimos resolver’. Talvez fosse mais prudente usar o princípio da ruptura, dizendo que o casal vai se separar porque não quer mais ficar junto”, argumenta.
Por fim, Giselle Groeninga esclarece que as crianças, além da natural curiosidade, tendem a ter uma visão onipotente, autocentrada, além de uma boa dose de fantasia. “Assim, embora a cartilha tenha abordado a ideia de que o filho não é culpado, a ideia de ‘um problema que não se consegue resolver’ pode despertar ainda mais a curiosidade e a imaginação em como resolver, de forma mágica, o referido problema. Em suma, todo o cuidado é pouco para não se fazer a diferença entre famílias “com problemas” em que os pais se separam versus famílias sem problemas em que os pais continuam juntos”, completa.
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