Na última semana, a animação brasileira O menino e o mundo, de Alê Abreu, venceu o Prêmio Cristal de longa-metragem no encerramento do 38º Festival do Filme de Animação de Annecy, no leste da França. O filme narra a trajetória de um menino que sofre com a ausência do pai e deixa a pequena cidade onde mora para descobrir um mundo fantástico dominado por máquinas-bichos e outros seres curiosos.

A animação é desenhada com rabiscos simples, em 2D, sobre espaços brancos que remetem a folhas de papel. Para compor mundos mágicos, o filme com duração de 1h20, faz o caminho inverso das animações contemporâneas e usa traços que beiram o surreal para falar de problemas modernos vistos pelos olhos de uma criança.

A história, contada sem o uso de palavras, mostra uma criança pobre cujo pai abandona a família para ir trabalhar em algum lugar distante. O cenário da família é rural, mas o mundo para onde partem os adultos é urbano.

Os ambientes da trama ganham características expressivas e distintas, pois o cenário rural é simbolizado por pequenos traços coloridos e leves, enquanto a parte urbana apresenta uma mistura de desenhos cinzentos e futuristas, com favelas em formas de cones e símbolos do capitalismo como outdoors e televisores. Um trem que atravessa a fazenda é representado por um monstro gigantesco, como uma serpente, que engole os adultos e depois desaparece em um infinito branco. A produção também mescla técnicas de colagens e imagens em estilo documentário.

De acordo com Marcel Jean, diretor artístico do Festival, desde a etapa da seleção, a importância crescente da animação brasileira se confirmou. A dupla consagração de também envia um sinal forte da vitalidade dessa cinematografia. Considerado o epicentro mundial do cinema de animação, o Festival de Annecy selecionou 236 filmes de 73 países.