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Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência expõe desafios persistentes

Entre as 198,3 milhões de pessoas com dois anos ou mais de idade no país, cerca de 14,4 milhões (7,3%) são pessoas com deficiência. Os dados preliminares do Censo Demográfico de 2022, divulgados neste ano pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, evidenciam a importância do Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência, celebrado neste domingo (21 de setembro), para reafirmar direitos e combater desigualdades.
De acordo com a publicação “Censo Demográfico 2022: Pessoas com Deficiência e Pessoas Diagnosticadas com Transtorno do Espectro Autista – Resultados Preliminares da Amostra”, em 2022, 2,2% da população de 2 a 14 anos tinham algum tipo de deficiência – na faixa dos 15 aos 59 anos esse percentual sobe para 5,4% e chega a 27,5% entre as pessoas com 70 anos ou mais.
A pesquisa também revelou que, em 16% dos domicílios recenseados, havia pelo menos um morador com deficiência. O Nordeste apresentou o maior percentual (19,5%), seguido por Norte (17,8%), Sudeste (14,7%), Centro-Oeste (14,3%) e Sul (14,1%).
Avanços
O advogado e professor Gustavo Henrique Velasco Boyadjian, presidente da Comissão da Pessoa com Deficiência do Instituto Brasileiro de Direito de Família – IBDFAM, explica que, ao longo das últimas décadas, conquistas importantes foram asseguradas, como a Lei Brasileira de Inclusão (13.146/2015), que consolidou a proteção legal contra a discriminação.
Segundo o advogado, a norma, conhecida como Estatuto da Pessoa com Deficiência – EPD, promoveu uma revolução ao abolir a figura do “absolutamente incapaz”. Além disso, ele explica que a capacidade para os atos da vida civil, incluindo o casamento, a união estável, a constituição de família, o exercício dos direitos sexuais reprodutivos e a liberdade para testar, passou a ser a regra; e restaram asseguradas a autonomia e a participação plena da pessoa com deficiência enquanto personagem central das relações jurídicas das quais participa.
Outro avanço importante, acrescenta Gustavo, é a Tomada de Decisão Apoiada – TDA. “O Instituto permite que a pessoa com deficiência eleja, de forma voluntária, duas pessoas de sua confiança para que lhe prestem apoio na tomada de decisões relevante, garantindo que as suas escolhas sejam respeitadas e compreendidas, sem a necessidade de substituição da sua vontade, nos moldes que se dava com a curatela.”
O diretor nacional do IBDFAM frisa que a deficiência não é, por si só, um fator impeditivo para o exercício da parentalidade e pessoas com deficiência podem herdar, testar e dispor de seus bens, assim como qualquer outra pessoa, sem restrições ou discriminações. “A capacidade sucessória foi integralmente restaurada.”
Por fim, afirma que o EPD fortaleceu os mecanismos de combate à discriminação, incluindo as relações familiares, com a promoção de um ambiente de maior respeito e igualdade.
Desafios
Apesar dos avanços, Gustavo aponta desafios significativos, como a resistência da sociedade para que sejam abandonados os modelos de assistencialismo, e a garantia de acessibilidade plena no sistema de Justiça.
Gustavo Boyadjian reconhece a necessidade de promover alterações de ordem arquitetônica e de comunicação, além da correta capacitação de magistrados, promotores, defensores, advogados e servidores “os quais, muitas vezes, não estão familiarizados com as especificidades e necessidades da pessoa com deficiência, especialmente na aplicação da tomada de decisão apoiada – TDA”.
“Infelizmente (e não raramente) ainda observamos casos de abandono, de negligência e até mesmo de violência contra as pessoas que têm deficiência, dentro do próprio ambiente familiar. O estigma social acaba por limitar a autonomia e o desenvolvimento pleno do indivíduo”, acrescenta.
Boyadjian afirma que as pessoas com deficiência sofrem preconceito que independe de nível sociocultural ou etnia. Para ele, a única forma de minimizar esta situação é pela educação, seja ela formal ou informal.”
Sobre a atuação do IBDFAM neste cenário, o advogado aponta a natureza científica e de atuação social do Instituto, com um papel fundamental e estratégico na proteção e na promoção dos direitos das pessoas com deficiência.
“A contribuição do IBDFAM é verificada na produção e disseminação de conhecimento, por meio de seus congressos, seminários, publicações e pareceres, na capacitação e formação (resultado das palestras e de grupos de estudos), na influência legislativa e de produção jurisprudencial, e na sensibilização e realização de debates públicos”, conclui.
Por Débora Anunciação
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