Ambicioso, o roteiro de “Pobres Criaturas” (Poor Things, 2023) transcende o universo fictício no qual mortos podem ser revividos e animais híbridos podem ser criados, e atinge camadas intrínsecas à realidade contemporânea, enquanto joga luz sobre temas como relacionamentos abusivos, liberdade sexual e poliamor. O filme, em cartaz nos cinemas brasileiros e indicado a 11 Oscars, repercute dores femininas com um olhar sensível, humanista, ácido e cômico.

A trama dirigida por Yorgo Lanthimos é uma das favoritas ao prêmio de Melhor Filme no Oscar de 2024 – neste ano, a cerimônia será realizada em 10 de março.

Baseada no livro homônimo do escritor Alasdair Gray, a história gira em torno de Bella Baxter, uma mulher que volta à vida com o cérebro de um bebê, cobaia de um experimento de Godwin Baxter (Willem Dafoe), cientista excêntrico que a mantém isolada em uma mansão luxuosa.

A curiosidade infantil de Bella pelo mundo externo amplia à medida que sua mente se desenvolve, e dá o ponto de partida para uma jornada de evolução intra e interpessoal ambientada em diferentes realidades.

Enquanto aprende a viver, e conviver, em sociedade, Bella conhece Duncan Wedderburn (Mark Ruffalo), um advogado ardiloso. Ao longo da trama, Duncan a convence a viajar com ele e os dois desenvolvem uma relação complexa e, gradativamente, tóxica.

Para além do surrealismo do filme, a história de Bella é comum à realidade de meninas e mulheres em diferentes partes do mundo. Um retrato das consequências da ingenuidade e inocência em uma sociedade na qual o patriarcado tem raízes profundas – mesmo nas telas de cinema.

Aos olhares mais atentos, Pobres Criaturas usa uma roupagem lúdica e excêntrica para evidenciar feridas ainda não curadas na contemporaneidade: a mulher que não pode ser dona de si; que deve permanecer oculta; que não pode sentir prazer; que não pode tomar as próprias decisões.

Temas esses caros e com repercussões cada vez mais claras no Direito das Famílias e das Sucessões.

No Oscar 2024, “Pobres Criaturas” concorre aos prêmios de Melhor Filme, Melhor Direção (Yorgo Lanthimos), Melhor Atriz (Emma Stone), Melhor Ator Coadjuvante (Mark Ruffalo), Melhor Roteiro Adaptado (Tony Mcnamara), Melhor Trilha Sonora Original, Melhor Figurino, Melhor Maquiagem e Cabelo, Melhor Design de Produção, Melhor Edição e Melhor Fotografia.

Por Débora Anunciação