Notícias
Nota da Comissão Nacional de Adoção do IBDFAM
Uma pessoa, que se intitula humorista, publicou um vídeo onde, supostamente, faria piada com um figurante.
O figurante personificava um adolescente de 12 anos, sob o nome de Guilherme.
Segue-se a pergunta formulada pelo “profissional do humor”:
- “doze anos, irmão? [...] Você veio com quem, Guilherme? Com teus pais? Essas pessoas próximas a ti? Eles são bem diferentes de ti! Tu é adotado, Guilherme?”
Seguem-se risadas do público.
Continua o “humorista”:
- “tu é adotado? Não? Não que tu saiba, né? [...] Não sei se tu sabes, mas tem que parecer. Espero que você não precise de medula. Que bom que você não me conhece. Mas também não conhece seus pais.”
E a plateia volta a rir.
Porque a adoção seria algo risível? O que há de ridículo, grotesco, cômico ou burlesco em ser adotado?
Trabalhamos arduamente para que a adoção saísse do armário por ser um ato a ser motivo do mais legítimo orgulho. Adoção significa desejo, realização do maior desejo de exercer a parentalidade responsável. Te escolhi como filho, tu me escolhestes como mãe, esse é o resultado da junção dos desejos.
O processo para consecução dessas parentalidade e filiação é longo, dolorido. Nós, pretendentes, somos dissecados em documentos, estudos, crivos. Depois, se positiva a dissecação, somos incluídos em um sistema randômico incompreensível e ficamos no aguardo da famosa ligação, atualmente WhatsApp, que nos informará sobre a chegada de nosso filho ou filha.
Essa espera pode durar 5, 10 anos, a depender do perfil desejado de criança e das peculiaridades da comarca.
A criança, por sua vez, aguarda uma família em instituições de acolhimento, por serem órfãs, por terem sido abandonadas, ou exploradas, ou negligenciadas ou abusadas, ou tudo isso junto.
A maioria das histórias é de dor e sofrimento.
Banalizar todas essas trajetórias tentando transformá-las em pseudo-humor é algo de uma crueldade dantesca.
Não posso reputar como mera falta de noção e sim como crueldade.
Tal “humorista”, em sua defesa, escreve que somos ignorantes por não sabermos diferenciar “humor” de “realidade”.
O livro “O que é Racismo Recreativo?”, de autoria do Professor Doutor pela Universidade de Harvard em Direito Antidiscriminatório e colunista da editoria de Justiça da CartaCapital, Adilson Moreira, que se propõe a discutir o humor enquanto política de hostilidade a minorias raciais, seja nas redes sociais, seja nos veículos de comunicação, passando pelo posicionamento do Judiciário brasileiro sobre o tema.
Podemos trazer a adotofobia para a esfera do racismo ou LGBTQIAPfobia, resguardadas as devidas proporções das práticas discriminatórias, e exigindo, igualmente, RESPEITO!
Segundo Adilson Moreira, “o humor racista é um tipo de discurso de ódio, é um tipo de mensagem que comunica desprezo, que comunica condescendência por minorias raciais”.
Essa é exatamente a mensagem que o pseudo-humor adotofobico traz, o desprezo pela adoção como se uma filiação de segunda categoria.
Em nome da Comissão de Adoção do IBDFAM e em meu próprio, manifesto total repúdio aos risos que dilaceram, às piadas que ofendem e fazem sofrer.
Silvana do Monte Moreira
Presidente da Comissão Nacional de Adoção do IBDFAM
Atendimento à imprensa: ascom@ibdfam.org.br