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O Ataque de Hiroshima e nossa realidade
O primeiro ataque atômico da história, em 6 de agosto de 1945 às 8:15 horas, fez com que Hiroshima ficasse mundialmente conhecida: 210 mil pessoas foram mortas ou feridas.
Naquela época a cidade tinha cerca de 330 mil habitantes e era uma das maiores cidades do Japão; o bombardeio matou cerca de 130 mil pessoas e feriu outras 80 mil. A grande maioria das vítimas era formada pela população civil, que nada tinha a ver com a guerra. Ainda hoje, passados mais de 60 anos da explosão da primeira bomba atômica, o número de vítimas continua sendo contabilizado, já ultrapassando 250 mil mortos.
Hiroshima é hoje uma cidade moderna; em meio aos numerosos prédios e largas avenidas, bem próximo do epicentro da explosão, foi construído o "Parque Memorial da Paz" que relembra o triste episódio. Nele foram erguidos o "Museu comemorativo da Paz" e inúmeros monumentos. Ao pé da "Chama da Paz" os nomes de todas as pessoas mortas por causa da explosão acompanham a mensagem: "descansem em paz; nós nunca repetiremos o erro".
O "Monumento das Crianças pela Paz" cuja história é marcada por profunda tristeza, envolve efetiva mensagem de esperança.
Quando a bomba foi lançada a menina Sadako Sasaki estava prestes a completar dois anos. Apesar de se encontrar apenas há 3 quilômetros do ponto de impacto, escapou aparentemente ilesa. Na fuga com a mãe e o irmão, foi encharcada pela chuva radioativa que caiu ao longo do dia. Até os doze anos Sadako parecia uma criança saudável; estudava e brincava como outras crianças. Um dia, durante uma corrida na escola, sentiu-se mal e caiu, ficando estendida no chão. Sadako estava com leucemia. Muitas outras crianças de Hiroshima apresentaram os mesmos sintomas decorrentes da radiação provocada pela bomba.
Sadako, assustada, não queria morrer. Ouvindo falar na lenda dos pássaros, segundo a qual aquele que dobrasse mil aves de "origami" seria curado de suas doenças, a menina não teve forças para dobrar os mil pássaros, e em 25 de Outubro de 1955 faleceu rodeada pela família e amigos. Seus colegas de classe dobraram, então, os pássaros que faltavam para que fossem enterrados com ela.
Após sua morte, grande mobilização foi feita por crianças em todo o Japão para que fosse construído no parque da Bomba o "Monumento das Crianças pela Paz". Dentre as árvores do Parque, o Monumento retrata uma menina com mãos estendidas e sobre ela voa um pássaro, simbolizando a longevidade e a felicidade.
Desde a inauguração o Monumento mantém-se, no seu cotidiano, cercado de origamis coloridos trazidos por crianças e pelo público em geral, simbolizando a esperança do desarmamento das Nações. Os "grous" transformaram-se no símbolo da cidade de Hiroshima, moldados ou pintados nos prédios públicos, estações de metrô, etc.
A visita a Hiroshima nesta data histórica remete-nos também aos conflitos nacionais e internacionais e à destruição da natureza com os quais convivemos em nosso cotidiano. Infelizmente, a humanidade prossegue condenando milhares de inocentes e crianças em conflitos armados; eles morrrem a cada dia sem saber por quê!
Mesmo como instrumento de intimidação pelas grandes potências, o uso de armas atômicas constitui, ainda, uma ameaça constante à humanidade.
Sadako Sasaki e Hiroshima representam um ideal de Paz traduzido, também, por outros sentimentos; a liberdade, a participação e o respeito indicam novos caminhos contra a violação de Direitos Humanos, anseio de harmonia entre as Nações! Neste sentido é fundamental a contribuição do Direito como instrumento constante de sua efetividade.
Os versos de Vinícius de Moraes, que tão bem exprimiram os sentimentos que inundaram a humanidade naquela época nos dão a esperança de que novas "rosas de Hiroshima" não terão mais espaço no mundo.
"Mas não se esqueçam
Da rosa da rosa
Da rosa de Hiroshima
A rosa hereditária
A rosa radioativa
Estúpida e inválida
A rosa com cirrose
A anti-rosa atômica
Sem cor sem perfume
Sem rosa sem nada"
Tânia da Silva Pereira é presidente da Comissão da Infância e Juventude do IBDFAM. Advogada. Mestre em Direito Privado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ ) com equivalência pela Universidade de Coimbra como Mestre em Ciências Civilíticas; Supervisora do "Posto avançado de Proteção Integral" - PAPI da OAB / RJ. Professora Assistente da UERJ de Direito da Criança e do Adolescente e Coordenadora do Curso de Especialização em Direito Especial da Criança e do Adolescente da UERJ.
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