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A força do amor em tempos de resistência
Há 11 anos, uma mulher diagnosticada com esclerose múltipla viu sua vida transformar-se por completo. Entre tratamentos, reações adversas e limites físicos, encontrou coragem para sonhar. Desejava ser mãe — não apenas por sangue, mas por afeto, por construção, por escolha.
Após uma falha terapêutica de sua medicação, tentou a fertilização in vitro. Doze embriões não resistiram aos efeitos da medicação que ainda precisava tomar. Mas a vida, insistente, guardava outras formas de florescer. No caminho da fertilização, conheceu uma jovem com uma filha pequena nos braços. Apaixonou-se — pela mulher e pela criança. E ali, naquele encontro, nasceu sua primeira maternidade: uma filha gerada no coração. Tornaram-se família.
O décimo terceiro embrião, o último - aquele que nem havia se desenvolvido nos primeiros dias - ressurgiu trazendo uma nova chance: um embrião viável. Porém, veio o diagnóstico de uma condição grave no colo do útero. Mais uma vez, o amor se impôs. Sua agora esposa, em gesto de coragem e entrega, se dispôs a gestar a filha do casal. A bebê nasceu. E juntas criaram as duas meninas — irmãs de alma, filhas de duas mães.
Quando tudo parecia finalmente em paz, veio a dor mais violenta: o risco do afastamento da filha mais velha, fruto de denúncias falsas, homofóbicas e desumanas. Tentaram apagar a maternidade construída com presença, cuidado e verdade. Mas a justiça — após um longo processo — reconheceu, em maio de 2025, o que o amor já havia consagrado: ela era mãe de sua filha mais velha. Por direito, por afeto, por história.
Ainda assim, a família enfrenta outro desafio: a invisibilidade. Em um mundo onde muitas instituições e ambientes ainda negam a legitimidade das configurações familiares homoafetivas e multiparentais, as filhas muitas vezes não se veem refletidas em outras crianças ou representadas nas escolas e espaços sociais. Uma espécie de “ideologia de gênero às avessas” lhes é imposta, não por escolha, mas pela não aceitação da realidade que vivem.
Essa é uma história de amor, resiliência e reconhecimento. Uma história que denuncia, mas também anuncia: o futuro das famílias está na pluralidade, no afeto e na coragem de quem ama, independentemente dos moldes tradicionais.
As mães, que são portadores de necessidades especiais, uma advogada, a outra bacharel em direito e técnica de transações imobiliárias, lutam, com suas limitações e características pessoais, para dar o que podem e de melhor às suas filhas - amor.
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