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Coparentalidade Efetiva
A coparentalidade é um conceito fundamental que reconhece a responsabilidade compartilhada dos genitores em relação aos seus filhos, independente do fim da relação conjugal. Para que a coparentalidade seja verdadeiramente exercida por ambos os genitores, de forma a beneficiar o desenvolvimento saudável dos filhos, é essencial a presença de elementos-chave, capazes de contribuir para um ambiente familiar positivo. Costumo dizer que temos 3 elementos- chave, são eles:
- Respeito,
- Comunicação clara,
- Cooperação mútua.
Antes de analisar os elementos, observamos que não se trata da construção de uma relação utópica e inviável no dia a dia dos genitores. A aplicação desses três elementos ou pilares na relação do ex- casal é perfeitamente viável, capaz de permitir o exercício da coparentalidade de forma plena e efetiva.
O primeiro pilar é o respeito. Sem ele, o exercício da coparentalidade não avança. É preciso separar as relações, marido /mulher e pai /mãe, mas isso não significa passar uma borracha nas questões emocionais existentes entre o ex-casal, elas não deixam de existir num passe de mágica porque os genitores decidem somar esforços com o intuito de dar efetividade ao exercício do poder familiar. Existe a necessidade de separarmos os papeis e analisar a questão sob a ótica da responsabilidade que os genitores têm conjuntamente na criação dos filhos em comum. Se os dois estão verdadeiramente preocupados com a saúde física, emocional e com o bem-estar dos filhos, conseguirão deixar as diferenças de lado para constituir uma espécie de sociedade com um propósito específico, baseada nas necessidades de tomarem decisões compartilhadas referentes à vida de seus filhos.
Costumo dizer em mediações que o divórcio dissolve o vínculo da conjugalidade, sai de cena o casal conjugal e entra em cena o casal parental. Esse novo casal terá que buscar formas de traçar novos ajustes em prol dos filhos em comum.
É necessário trazer esse dado de realidade, pois quanto mais novos forem os filhos, maior será a jornada conjunta desse casal. Inúmeras serão as decisões, os encontros, as reuniões escolares, as festas, as doenças, as visitas aos médicos, as datas comemorativas, os aniversários, os passeios, os feriados, as viagens, as férias, etc.
Se os genitores conseguem manter uma relação respeitosa em nome do desenvolvimento saudável dos filhos, os demais pilares entram para ajustar o funcionamento dessa nova relação e dar efetividade à coparentalidade.
Esse casal parental forma uma “sociedade”, cujo propósito específico consiste na educação e criação dos filhos, protegendo-os e zelando pelo seu desenvolvimento saudável.
O segundo pilar é a comunicação clara entre os genitores. Estabelecer canais abertos e transparentes de comunicação é essencial para garantir que as decisões em relação aos filhos sejam tomadas de forma conjunta e colaborativa. Uma comunicação eficaz permite que os genitores compartilhem informações relevantes, discutam questões importantes e estejam alinhados no que tange às necessidades e aos interesses de seus filhos.
É importante zelar pela comunicação clara. As mensagens trocadas entre o casal parental precisam ser sempre objetivas. Toda vez que houver dúvida sobre um texto, releia. Se possível, é bom estabelecer o contato por ligações ou áudios sem imaginar que o outro será capaz de adivinhar ou compreender o que não foi dito ou escrito. Cada casal parental achará o melhor meio de se comunicar, basta ter em mente a necessidade de se expressarem com objetividade e clareza, deixando de lado tópicos que causem problemas ou possam ser mal interpretados.
Além do respeito e da comunicação clara, a cooperação entre os genitores é outro elemento crucial para o exercício da coparentalidade efetiva. A cooperação envolve a capacidade de trabalhar em conjunto e priorizar o bem-estar dos filhos acima de quaisquer desavenças pessoais.
Algumas pessoas têm uma baixa autopercepção, então, é salutar que, toda vez que um dos genitores precise tomar uma decisão, ainda que seja sobre algo simples, ele tem o dever de se perguntar antes de responder: Será que estou sendo colaborativo? Se fosse eu quem tivesse feito o pedido, eu gostaria que a resposta fosse positiva ou negativa? É importante praticar esse exercício, pois uma troca de fim de semana ou um pedido para levar o filho na festa em que você pretendia ir deixam de ser problemas, se analisados de forma cooperativa e empática.
Pratique sempre o exercício de se colocar no lugar do outro. Agir de forma cooperativa demonstra maturidade emocional e responsabilidade.
Se os genitores conseguem desenvolver esses três pilares, além de fortalecerem os laços familiares, serão capazes de promover um ambiente muito mais seguro e emocionalmente estável para seus filhos.
Juliana Marinho Pontes
Advogada. Mediadora, pós-graduada em Direito Público e Privado pela Escola de Magistratura do Estado do Rio de Janeiro. Sócia do Escritório Pontes Advogados.
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