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A Alienação Parental é transmitida entre gerações?
Elise Karam Trindade, psicóloga inscrita no CRP sob nº 07/15.329; graduada em Psicologia (Universidade Luterana do Brasil - ULBRA); especializada em técnicas psicoterápicas psicanalíticas com crianças e adolescentes (NUSIAF - Universidade de Coimbra, Portugal); diplomada em Estudos Avançados (DEA - Universidade da Extremadura, Espanha); doutoranda na área de intervenção psicológica em saúde e educação (Instituto Superior Miguel Torga, Portugal); especialista em Psicologia Forense (IMED); Neuropsicóloga (Hospital Albert Einstein – São Paulo) e membro da Sociedade Brasileira de Psicologia Jurídica (SBPJ), com atuação técnica indireta.
Ana Carolina Schmidt de Oliveira, psicóloga (PUC Campinas e UNIR Espanha), especialista em dependência química (UNIFESP), máster em psicologia legal e forense (UNED Espanha), máster em psicologia sanitária (UDIMA Espanha, em andamento).
Hewdy Lobo Ribeiro, Psiquiatra Forense, Psicogeriatra e Psicoterapeuta com titulações pela Associação Brasileira de Psiquiatria e regularmente inscrito no Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (CREMESP 114.681, RQEs 300.311, 300.312 e 300.313), Membro da Comissão de Saúde Mental da Mulher da Associação Brasileira de Psiquiatria, Ex-Médico Colaborador do ProMulher no Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo, Ex-Conselheiro no Conselho Penitenciário de São Paulo, Ex-Perito Psiquiatra no Tribunal de Justiça de São Paulo e Perito Convidado no Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo.
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Alienação parental, gênero, divórcio, psiquiatra forense, psicóloga jurídica, transtornos mentais, vida mental, cremed.
A teoria sistêmica sugere que padrões familiares emaranhados, onde os limites são difusos, podem comprometer a diferenciação entre os membros da família, facilitando a transmissão de problemas entre gerações, como a Alienação Parental. Neste caso, a estrutura de personalidade, moldada por experiências infantis e traumas na vida adulta, também desempenha um papel importante[1].
A transmissão psíquica transgeracional explica como os conteúdos não resolvidos de uma geração podem influenciar a seguinte. Um genitor que induz o filho a rejeitar o outro pode ter vivido uma experiência semelhante na infância, repetindo esse padrão na vida adulta[2]. Baker e Darnall (2006) destacam que a Alienação Parental pode ser vista como uma transmissão intergeracional de trauma[3].
No entanto, a repetição de um padrão passado não justifica automaticamente a Alienação Parental. Nem todos que sofreram alienação na infância repetem o comportamento na vida adulta, e o inverso também é verdadeiro. O comportamento alienador pode ser influenciado por um padrão aprendido, como descrito por Bandura (1977)[4], onde a convivência com um genitor narcisista distorce as noções de identidade e realidade.
Em pesquisas, observa-se que muitas mães alienadoras têm histórico de relações simbióticas e ansiedades de separação, o que dificulta a manutenção de vínculos saudáveis na vida adulta. Essas mães tendem a apresentar características compatíveis com transtornos de personalidade, como angústia de separação, impulsividade e narcisismo[5].
No passado, a Alienação Parental era menos relevante, devido à naturalização do papel materno como cuidadora exclusiva. No entanto, estudos indicam que as mães são mais frequentemente as alienadoras, devido, em parte, à predominância histórica da guarda materna[6].
Com o aumento da participação paterna nos cuidados dos filhos, surgiram mais casos de Alienação Parental. Argumenta-se que o sentimento de abandono e traição após o término do relacionamento pode levar a mãe a vingar-se, utilizando os filhos contra o pai. Essa dinâmica é intensificada por rivalidades e disputas de interesses, comuns em casos de Alienação Parental[7].
Pesquisas, como a de Damiani e Ramires (2016), indicam que ex-casais envolvidos em disputas de guarda muitas vezes apresentam histórias de relacionamentos instáveis, marcados por perdas precoces e conflitos afetivos. Nessas situações, as mães alienadoras demonstram um discurso unilateral e uma concepção de maternidade possessiva, utilizando os filhos para controlar a relação com o pai[8].
Assim, a Alienação Parental pode ser interpretada como uma manifestação transgeracional, seja pela repetição de vivências dolorosas ou pela influência de padrões de comportamento narcisista, muitas vezes não tratados ou diagnosticados. Esse comportamento pode estar associado a traços perversos, onde a intenção é prejudicar o ex-cônjuge de forma deliberada[9].
Desse modo, para compreender melhor o fenômeno da Alienação Parental, é crucial observar as características individuais e sistêmicas dos alienadores.
[1] Freud, S Conferências de introducción al psicoanálisis v.1 6, 1916. Em Obras completas. Argentina: Amorrortu editores, 1994.
[2] Coelho, M I S M & Morais, N A Contribuições da Teoria Sistêmica acerca da Alienação Parental. Contextos Clínicos, 7(2), 168-181, 2014.
[3] Baker, A J L, & Darnall, D A construct study of the eight symptoms of severe parental alienation syndrome: A survey of parental experiences. Journal of Divorce & Remarriage, 45(3-4), 55-78, 2006.
[4] Bandura, A Social learning theory. Prentice-Hall, 1977.
[5] Damiani, F; Ramires, V R R Características de estrutura de personalidade de pais e mães envolvidos no fenômeno da alienação parental. Interação em Psicologia, Curitiba, v. 20, n. 2, dez. 1016.
[6] Rand, D. C. Parental alienation critics and the politics of science. The American Journal of Family Therapy, 39(1), 48-71
[7] Dias, M B Síndrome da Alienação Parental. O que é isso? In: Associação de Pais e Mais Separados (APASE) (ed.), Síndrome da Alienação Parental e a tirania do guardião: aspectos psicológicos, sociais e jurídicos. Porto Alegre, Equilíbrio, p. 11-14, 2007.
[8] Damiani, F; Ramires, V R R Características de estrutura de personalidade de pais e mães envolvidos no fenômeno da alienação parental. Interação em Psicologia, Curitiba, v. 20, n. 2, dez. 1016.
[9] Ana Paula Neu Rechden, Elise Karam Trindade, Patrícia Cantisani Schäffer Pires. Alienação Parental: a influência do perfil de personalidade em alienadoras. In: Joel Rennó Jr ; AZUMA, A. O. ; ANGELELLI, A. M. M. ; RIBEIRO, C. C. ; RIBEIRO, H. L. ; GOMES, I. E. V. E. M. . Tratado de Saúde Mental da Mulher uma abordagem multidisciplinar. 1. ed. Santana de Parnaíba: Manole, 2023.
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