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A importância histórica da filosofia feminina
A IMPORTÂNCIA HISTÓRICA DA FILOSOFIA FEMININA
José Eulálio Figueiredo de Almeida1
Sumário: 1. Histórico. – 2. Introdução. – 3. As primeiras filósofas de nossas vidas. – 4. O lugar da mulher na história da filosofia universal. – 5. A filosofia como história da felicidade humana. - 6. Conclusão.
Resumo: O presente estudo tem o objetivo de demonstrar que a história da filosofia envolve também a participação da mulher filósofa, a qual permaneceu invisível, sem lugar e sem fala na antiguidade grega, bem como em séculos posteriores, e, ainda hoje, em algumas situações, continua sem visibilidade em face do preconceito social ou da hegemonia de correntes filosóficas ou de manifestações misóginas vinculadas ao patriarcalismo radical que via a mulher como ser humano destinado apenas às funções domésticas e à procriação, circunstância que se enquadra no que denominamos, atualmente, de violência de gênero contra a mulher.
Palavras chaves: Filosofia – História - Mulher - Filósofas – Antiga Grécia – Mulheres filósofas – Mestra - Provérbio – Amiga da sabedoria – Violência de gênero contra a mulher.
Key words: Philosophy - History – Women - Philosophers – Ancient greece – Philosopher womem- Mistress – Saying – Friend of wisdom - gender violence against women.
- Histórico
Na história das civilizações, a religião sempre prevaleceu como base e principal elemento constitutivo da sociedade, impondo seus princípios e outorgando poderes a um Deus, cuja supremacia, dentro do próprio núcleo familiar, era representado pela autoridade do homem que, por sua vez, era responsável pela tutela de todos os membros da família, inclusive da mulher, vítima frequente de violência de gênero.
Quando o governo da cidade elaborou suas leis já existia um direito proeminente originado na religião e na família. Portanto, pode-se dizer que o antigo direito não é obra do legislador; o direito, ao contrário, impôs-se ao legislador.[1]
Durante o desenvolvimento da história da humanidade, o pensar sempre foi destacado como um privilégio dos homens, não obstante a mitologia grega enumere várias mulheres que se destacaram na mitopoese, como deusas, dentre outras: Afrodite, Artemis, Atena, Deméter, Hera, Irene, Perséfone, Pandora, Gaia e Héstia. No entanto, todas elas têm uma ligação com Zeus, um deus grego que representa a hegemonia da figura masculina.
Algumas dessas deusas gregas femininas possuem a sua correspondente romana. Dentre elas, pode-se destacar Minerva (versão latina da deusa Atena). É importante lembrar que Minerva não nasceu do corpo de sua mãe, mas da cabeça de seu pai, o deus romano Júpiter, equivalente na antiga Grécia a Zeus, considerado o deus supremo dos gregos. Isto demonstra, desde o princípio, a desvalorização da mulher mediante discriminação equivalente a violência de gênero psicológica.
Não é, por outra razão, que Simone de Beauvoir enfatiza que “toda a história das mulheres foi feita por homens[2]”. É unânime a opinião de historiadores e filósofos da atualidade nesse sentido, conforme se observa, por todos, do lecionamento abaixo transcrito:
“Os próprios filósofos da Antiguidade grega definiam as mulheres com características e atribuições negativas, como a figura que detém o mal, com atitudes capciosas, um ser incompleto.[3]”
A mulher era assim condicionada a ser o Outro: sem nome, sem identidade, sem lugar, sem fala, sem visibilidade, sem oportunidades. Esse Outro, como categoria inferior e não essencial para a sociedade de épocas remotas, como a greco-romana, por exemplo, foi colocado nesse lugar invisível pelo homem de antanho, embora ele soubesse, desde os primórdios das civilizações antigas, que a mulher é um ser pensante e que teve importante participação na história da construção do conhecimento humano.
No dizer da médica psiquiátrica Nawal el Saadawi[4] “a mulher foi considerada uma ameaça ao homem e à sociedade e a única maneira para evitar o mal que ela podia fazer era confiná-la em casa onde não podia ter contato nem com homens, nem com a sociedade.”
Acredito que essas mulheres virtuosas, fatigadas pela indiferença masculina e indignadas pela submissão cotidiana, passaram a desenvolver estratégias e vivências diárias para livrarem-se das amarras dos preconceitos sociais estabelecidos por maridos autoritários ou varões prepotentes que, sem qualquer afago ou gracejo efêmero, lhes devotavam apenas a ociosidade e a indolência dos dias refestelados no sossego recôndito do tálamo conjugal, onde permaneciam, invisíveis e isoladas, no gineceu pelo fato da perda da identidade e da autonomia pessoal.
O homem patriarcal e filósofo das sociedades antigas e dos séculos passados somente não imaginou que um dia o futuro da filosofia teria também como destaque a mulher filósofa, abordando temas que, outrora examinados apenas com a ótica da percepção masculina, ganham novas perspectivas sob o olhar feminino de mulheres que, independentemente de sua ancestralidade, dos lugares sociais, da nacionalidade, da raça, da cor, da origem, da etnia, da religião, tornaram-se protagonista da história da filosofia, cujo tempo e registro guardam seus escritos do passado e de hoje para conhecimento das gerações passantes e futuras.
Essas mulheres, que tanto lembraremos neste estudo, atualmente elevam-se ao mesmo patamar dos homens que em épocas remotas as preteriram e obliteraram. Essas mulheres simbolizam as águias, rainhas dos céus e das aves, cuja visão altaneira representava – e ainda representa - força, coragem, destemor e o símbolo do poder.
Às mulheres filósofas está garantida, em nossos dias, a mesma posição na galeria dos notáveis homens de outrora e da atualidade, onde recebem o triunfo que as nobilitam e as glorificam com o merecido galardão de mestras, numa ubiquidade universal, mediante a imperecível aclamação das academias de cultura em que se alcandoram a fecunda uberdade dos imortais e a eloquência dos sábios.
Algumas dessas mulheres foram estetas de si mesmas, pois, sem qualquer formação escolar ou sem saírem de suas casas, possuíam o dom de compartilhar o conhecimento sem caligrafia, considerando que sua força de expressão estava na oralidade.
As mulheres a que me refiro nesta insuspeita dissertação são as que, num exemplo de coragem heróica, conquistaram a liberdade sponte sua como ser pensante, inteligente e feliz. Uma mulher é livre quando encontra, ela mesma, as razões que determinam sua independência ou quando sua liberdade/vontade, embora cerceada por outrem, não encontra resistência ou obstáculo em suas convicções racionais para fazer aquilo que a escolha pretendida a inspira ou a motiva.
2. Introdução
Para incitar o raciocínio do leitor, começo o presente estudo fazendo a seguinte pergunta: você já teve uma mulher filósofa em sua casa? Ou lembra de alguma canção de ninar, quando foi embalado por sua mãe ou pela sua avó para o primeiro sono infantil? Ou, finalmente, se recorda de algum aforismo que era pronunciado frequentemente no ambiente familiar? Se responder que nunca teve ou não lembra, eu discordo.
Após a leitura completa deste trabalho, você certamente lembrará de inúmeras filósofas que conheceu ao longo de sua vida, algumas dentro de sua própria casa; outras durante sua convivência social, mas todas muito próximas, como se fossem professoras a ensinar gratuitamente os aforismos ou provérbios que contém normas éticas, condutas morais e conceitos sociais eternos.
Numa copiosa e variada exemplificação, avós, mães, madrastas, sogras, tias, irmãs, cunhadas, comadres, madrinhas, babás, amas-secas, servas, parteiras, tecelãs, rezadeiras, lavadeiras, cozinheiras, costureiras, engomadeiras, rendeiras, benzedeiras, cada uma ao seu modo, estilo e tempo, proferiam seus adágios com o intuito de ensinar os mais jovens e catequizar toda a família sobre os temas prosaicos do cotidiano, aplicáveis a todas as situações.
Convencido disso, Jules Michelet[5], num momento de rara beleza, afirma que “toda mulher é uma escola, e é dela que as gerações recebem verdadeiramente suas crenças”. O lar doméstico deve ser como uma escola uterinizada, destacado do conchego placentário, onde desde a concepção dá-se o primeiro encontro entre o feto e a maternidade, cujo cordão umbilical permite ao nascituro comunicar-se intimamente com sua mãe no espaço intrauterino.
Nesse aspecto, a suposta autoridade patriarcal, outrora reclamada de forma machista, cede espaço à potência da mulher enquanto mãe, porque é ela quem amamenta, gesta e educa seus filhos e filhas, futuros cidadãos e cidadãs de uma República, afastando tudo aquilo que, de acordo com a tradição cristã, a pecante maldição de Eva nos infligiu – Virgines, futuras virorum matres, republica docet.
O patriarcalismo remonta ao mito de Adão e Eva; algo ligado à sedução e ao sexo. Volta-se a um tempo em que se estabeleceu a história do medo que o homem sente da mulher. Essa projeção sombria, vinculada, dentre outras causas, ao ciúme é resultante do fato de que “o macho da espécie humana jamais perdeu seu medo de que um dia a mulher se tornasse vitoriosa e reconquistasse os direitos que perdeu.[6]”
Embora cerceadas em seus lares, tais mentoras mantinham-se com a visão do palinuro que não deixa a embarcação naufragar entre ferozes banzeiros dos grandes mares. O monopólio masculino e os compromissos familiares não lhes coibiam a inata vocação para ensinarem filosofia pura sem nunca terem comparecido um dia sequer a uma escola para adquirirem algum conhecimento, porque a experiência de vida foi a melhor professora de todas elas.
Essas heroínas dos lares domésticos, outrora exploradas e devotadas à maternidade e ao diário labor domiciliar, eram mulheres sábias que, no esplendor de suas sapiências, cantarolavam em seu trabalho diuturno, contavam histórias, causos e fábulas aos circunstantes, as quais vinham temperadas de preceitos éticos, religiosos e morais constantemente evocados para justificar exemplos de correção e de prudência, quando não de cunho hilariante ou anedótico.
Nesse cenário familiar essas matriarcas e matronas, mestras de todos nós, embora algumas não fossem alfabetizadas[7], deixaram seus legados filosóficos que foram sendo difundidos verbalmente até nossos dias e seguirão na mesma diretriz para conhecimento das gerações passantes e futuras.
Axiomas como “quem não pode com o pote, não pega na rodilha” ou “quem tem telhado de vidro não joga pedra em telhado alheio” refletem bem as lições sobre responsabilidade e ética social em preceitos que, apesar de inocentes, incutem no ouvinte o aprendizado de como deve ser o sentido da vida.
Essas mulheres filósofas pensavam por si e pelos homens. Por isso, sendo rainhas ou princesas, burguesas ou plebeias, casadas ou solteiras, sabiam de todas as coisas, apesar de não terem direito a fala e a um lugar na sociedade dominada pelos homens. Pouquíssimas deixaram suas ideias retratadas em livros ou escritos esparsos. A maioria transferiu para os homens conhecimentos precursores, propiciando-lhes a usurpação de seus dotes magistrais.
Mesmo sendo mães, esposas, viúvas e mestras de muitos homens ilustres, uma imensidão de mulheres teve seus valores espoliados e os nomes apagados da história, restando apenas um pequeno registro histórico de algumas que, usando nome masculino ou utilizando outros artifícios, como, por exemplo, trajar-se com roupa apropriada para homens e assumir trejeitos másculos, conseguiram difundir suas ideias em formato de publicações por pesquisadores, embora sem romperem o paradigma machista vigente durante o período em que viveram.
E foi assim que a filosofia feminina foi difundida, principalmente, na antiga Grécia, onde floresceu nos apotegmas de filósofos pré-socráticos como Tales[8] de Mileto, Pitágoras[9] e os pitagóricos[10] (que aceitavam mulheres em suas confrarias) e, mais precisamente, nos ensinamentos do próprio Sócrates[11], do seu discípulo Platão[12] e de Aristóteles[13].
Embora prevalecesse uma hegemonia masculina, pelo fato de as vozes femininas não terem lugar, nem expressão na sociedade humana daqueles tempos, totalmente dominada, predominantemente, pelos homens, existiram, nesse período, várias mulheres filósofas cujas ideias propiciaram o desenvolvimento do pensamento filosófico universal, não obstante, repita-se, algumas delas não tenham publicado livros ou documentos manuscritos.
A propósito disso, conforme aduz a historiadora Marize Campos[14], deve ser dito que o registro mais antigo de denúncia da opressão feminina, datado de 624 a.C., é o da poeta grega Safo[15], na expressão de um epigrama de autoria de Platão, no qual esse filósofo faz menção a essa mulher[16], nominando-a de a “décima musa”.
Na ficção, o grande dramaturgo grego Sófocles, na peça conhecida como “A Trilogia Tebana”, dá voz a Antígona, uma mulher que, na tragédia idealizada pelo referido escritor, descumpre a lei do Estado invocando os deveres religiosos. Rompe, assim, com o lugar feminino que deveria ocupar na sociedade machista para assumir papel tipicamente masculino, enfrentando o rei Creonte, tio dela, em defesa do direito ao sepulcro e honras fúnebres para seu irmão Polinice, morto na disputa pelo trono de Tebas.
A expressão de Antígona, como mulher, constitui “o primeiro grito de protesto contra a onipotência dos governantes e a prepotência dos adultos... e a heroína simboliza o dever de dar ouvidos à própria consciência.[17]”
O debate travado entre o rei Creonte e Antígona, retratado na célebre tragédia de autoria de Sófocles, representa, de acordo com Mário da Gama Kury[18], sem a mínima dúvida:
“O único exemplo em que o tema central de um drama grego é um problema prático de conduta, envolvendo aspectos morais e políticos, que poderiam ser discutidos, com fundamentos e interesses idênticos, em qualquer época ou país.”
Filósofos, juristas e historiadores, desde Aristóteles em sua clássica obra “Retórica”, têm citado o modelo dessa mulher chamada Antígona como alguém que abdica do próprio direito de viver em defesa da obediência das leis naturais contra o edito estatal.
Existe um rol extenso de mulheres filósofas dentro e fora de nossas casas. Contudo, destacaremos aquelas que eternizaram seus ensinamentos por meio de suas obras perante as antigas civilizações, sem descurar de registrar, aqui e acolá, as máximas de experiência e de sabedoria popular que legaram aos nossos parentes e amigos próximos que, por sua vez, nos transmitiram.
Entretanto, pesquisas recentes apontam que antes da Grécia, civilizações antigas, como a egípcia[19], apenas para exemplificar, foram berço do pensamento filosófico, cujo nascimento se verificou no lugar “Kemet”, assim denominado por seus próprios habitantes. Nesse local teve início o pensamento filosófico no Egito, com a chamada filosofia kemética, “a mais de dois milênios antes da filosofia grega[20].”
Daí porque alguns historiadores e filósofos defendem ser controverso afirmar que a filosofia tem como “certidão de nascimento” as antigas colônias gregas da Ásia Menor e que o fazer filosófico era coisa somente para homens.
É que agora sabemos que o pensamento humano tinha também como protagonista a mulher que, embora não tivesse “um lugar de fala” e aceitasse passivamente a brutalidade ofensiva de ilustres varões, se pronunciava através dos filósofos que aprenderam com elas, deixando claro que a filosofia não é algo universal, mas pluriversal; que é processo mental de cunho crítico, reflexivo e racional, que vai além do gênero humano homem/mulher como amigos da sabedoria.
Por essa razão não é demasiado acrescentar que os filósofos mais conhecidos da antiga Grécia: Sócrates[21], Platão[22] e Aristóteles[23], conviveram com mulheres que influenciaram muito suas vidas ascendentes e enriqueceram seus estudos filosóficos. Portanto, além de suas esposas, com as quais muito aprenderam, outras mulheres também foram suas mestras como, por exemplo, Aspásia de Mileto, a hetera que ensinou Péricles, o grande político Ateniense, a discursar. Foi ela, na unânime informação dos biógrafos, que também ensinou a Sócrates, o grande mestre da filosofia da Grécia antiga, a arte da eloquência e da retórica.
Na pesquisa que realizamos encontramos também a figura de Hipárquia de Maroneia. Essa mulher fez parte da escola cínica, que consistia numa corrente helenística fundada por Antístenes e tornou-se famosa pela distinção do filósofo Diógenes de Sinope. Nas suas manifestações, Hipárquia reivindicava um lugar de destaque para as mulheres perante a sociedade ateniense nos eventos que participava e “que costumavam ser apenas para homens e se destacava em disputas verbais com outros pensadores.[24]”
Várias mulheres, conhecidas como neopitagóricas e platônicas, frequentaram a Academia de Platão. Embora não fosse casado, este filósofo teve como suas colaboradoras e alunas de destaque duas mulheres, uma delas chamada Axioteia de Filos e a outra Lastênia de Mantineia, as quais muito contribuíram em suas pesquisas filosóficas. Axioteia frequentava a Academia platônica com vestes e aparência masculinas. Isto ocorria porque ela era estrangeira e para evitar escândalos nas reuniões entre os círculos masculinos, ambiente em que queria ser admitida.
Agora sabemos que a legião de filósofos que opulentavam seus nomes com os títulos honoríficos dos próceres das arcadas, que exibem a nobreza nobiliárquica do conhecimento, não podem, sozinhos, hastear o pendão do autocrata excelso, porque à parceria deles estavam egrégias mulheres, mantidas em submisso anonimato, a ministrar-lhes ensinamentos que os consagrariam como beneméritos varonis conhecedores da sabedoria.
As dignificações terrestres auferidas por esses filósofos ofuscavam a capacidade de dividirem o mérito de suas conquistas com as mulheres que lhes ministravam gratuitamente conhecimentos incomparáveis. Eles as mantinham rebuçadas, sem visibilidade; deixavam-nas ocultas como sacerdotisas reclusas num casulo, para nunca serem notadas e visíveis durante o dia ou à noite, ainda que vestissem sempre roupas ou manifestassem ideias que possuíssem a luminosidade do sol.
Era como se a presença da mulher filósofa colocasse o homem daqueles tempos gregos num beco sem saída. Aliás, a escritora Nawal el Saadawi[25] afirma que, dentre os autores, do passado ou do presente, que teve a oportunidade de ler, todos de alguma forma enxergam a mulher como um ser perigoso. Porém verificou que “o pânico que Freud experimentava ao se defrontar com uma mulher” representa o medo masculino da marca que a mulher tem deixado no pensamento científico.
Se prestarmos bem atenção aos fatos, descobriremos que é comum ao ser humano ocultar a origem de sua sabedoria. Veja-se o exemplo do mágico que não se deixa desvendar e cujas mãos ligeiras são capazes de iludir o espectador mais atento. O filósofo é um prestidigitador do pensamento racional; usa a sabedoria para disseminar conhecimento em favor do desenvolvimento humano, a partir de argumentação com rigor metodológico para forçar o leitor ou o ouvinte irresoluto a elaborar novos questionamentos.
Com exceção de Sócrates, foi o orgulho e a vaidade machista que impediram os demais filósofos da antiguidade grega de confessarem sua imodéstia e que receberam muitas lições de mulheres filósofas, as quais permaneceram por longos anos invisíveis e anônimas, ou seja, silenciadas e apagadas da história do pensamento filosófico da humanidade.
3. As primeiras filósofas de nossas vidas
As mulheres de minha vida infantojuvenil eram genuínas filósofas, embora não soubessem o conceito de filosofia. Mas se é certo que a palavra filosofia deriva do grego e tem origem na junção de dois termos: philos, que significa amigo; e sophia, que significa sabedoria, elas estavam inseridas no seleto mundo da filosofia. Destarte, o filósofo é, por acepção etimológica da palavra, o amigo da sabedoria.
As mulheres a que me refiro tinham essa sabedoria popular inata por intuição; elas nunca frequentaram uma escola, nem eram letradas. Na realidade, o letramento envolve uma dinamicidade mais ampla do que a própria alfabetização, porque concentra, ao mesmo tempo, a ideia pluralista da escrita e da leitura na sociedade.
Mas nem por isso impede pessoas ágrafas ou iletradas de desenvolverem talentos culturais, posto que esta prática é resultante da criação mental do indivíduo que possui um dom que independe da escolarização, da articulação oral, do mutismo, da cegueira, do acesso à leitura, do conhecimento da língua, do domínio da escrita ou da sua posição social.
Assim sendo, reafirmo que minhas primitivas aulas de filosofia não foram ministradas na escola, nem poderiam ser; aprendi as primeiras máximas de experiência no lar doméstico, ouvindo histórias contadas por mulheres que conheci na infância que tive na minha família. Nenhuma delas estudou, outras nem ler e escrever sabiam, mas eram sábias. Algumas simplesmente nem sabiam assinar o nome, mas tinham a sapiência do vitalismo.
Suas lições diárias eram ensinadas durante os trabalhos inerentes ao sexo feminino. Contudo, sempre estavam envolvidas em tarefas coletivas na lavoura, como era o caso, por exemplo, do trabalho comunitário de extração da mandioca para fazer farinha na casa de forno, lugar onde homens e mulheres interagiam, imbuídos do propósito de finalizar a produção da safra agrícola.
Era nesse ambiente comunitário, constituído, na maioria das vezes, por pessoas da mesma família, que os mais jovens aprendiam, notadamente com as mulheres, a arte milenar da preparação do pão que vem da terra, entre cantigas, adágios populares e muitas preleções que serviriam para o resto da vida.
Certamente o leitor já deve ter ouvido alguns ditados populares que combinam perfeitamente com situações corriqueiras do dia-a-dia, dentre os quais podemos enumerar: “Me dizes com quem andas, que te direi quem tu és”; ou em outra fórmula: “Água mole em pedra dura tanto bate até que fura”; ou finalmente: “Casa de ferreiro, espeto de pau”.
Esses provérbios, ainda hoje vigentes, divulgados em família, são pronunciados oralmente por pessoas que nem sempre se dão conta de que um dia eles foram ensinados por mulheres que se ocupavam dos afazeres domésticos e, para melhor fixação da advertência feita ao filho, a algum parente ou amigo próximo, concluíam a conversa com um adágio representativo de uma norma social de cunho ético ou moral.
Essas heroínas do conhecimento filosófico, da sabedoria popular e do pensamento humano, ensinavam, como já dissemos inúmeras vezes, em família, contando histórias com a paciência hierática e o juramento solene da apologia ao amor materno. Como bem lembra Laura Picozzi[26]:
“A família é o lugar da transmissão, é onde se comunica um estilo, onde as narrações são escutadas, onde os valores são compartilhados. Nos contos familiares existem palavras que marcaram a nossa origem, que nos acolheram quando nascemos e que nos seguiram – às vezes perseguiram – até a idade adulta.”
Essas notáveis mulheres, filósofas de nossa vida familiar, prudentes e cautelosas missionárias da catequese doméstica, permanecem anônimas, porque nada escreveram. E também porque não podiam disputar lugares, nem ter direito a fala nas escalas ou ambientes sociais dominados à época pelos homens. Mas seus ensinamentos vivem em nossas irremovíveis lembranças.
A discriminação misógina que era imposta à mulher na antiguidade, com reflexos ainda hoje em alguns países, chegava ao absurdo de defender data maxima venia a alforria do escravo, mas não a liberdade da mulher, a qual carregava um sentimento de culpa causado por uma espécie de senso moral coletivo, que lhe impunha uma sigilosa justiça domiciliar para preservar a suprema autoridade patriarcal, circunstância que provocava a perda da identidade feminina e a capacidade de reação. A mulher vítima desses desmandos ignóbeis mantinha-se inerte e inerme para salvaguardar a sua família e não ser considerada mentalmente desequilibrada.
Apesar de terem vivido esse calvário histórico, essas mulheres filósofas de nossa convivência não estão silenciadas em suas aulas de filosofia, porque jamais serão apagadas de nossas memórias afetivas. Este é o lugar no qual elas, nossas mestras e preceptoras, com sua ancestralidade plural, sempre estarão guardadas e preservadas para serem lembradas ad aeternum.
4. O lugar da mulher na história da filosofia universal
É recente a descoberta da mulher com o título de filósofa nas civilizações de antanho, especialmente na Grécia antiga, considerada o berço da filosofia, onde prevalecia a ideia da sociedade binária e o conceito de “gênero” não estava separado do de sexo biológico.
Mas falar de “mulher filósofa” não deve representar apenas o reconhecimento do pensamento feminista, mas a existência de doutrinas que envolvem questões de gênero, sob inúmeros aspectos, e cujo grito ecoa para além do papel onde foram impressas suas teorias e palavras em busca de uma igualdade social.
Ser mulher filósofa! Eis a grande questão, independentemente da diversidade de gênero ou do grupo para o qual compartilha suas ideias. Nessa perspectiva não interessa unicamente investigar o que essas mulheres pensam, mas como elas podem e devem manifestar o seu dizer filosófico, considerando que ninguém tem como desejo ser oprimido e violentado. Ser vista e ouvida é uma forma de as mulheres livrarem-se das amarras do patriarcado egocêntrico que lhes impediu de ocupar o espaço que era delas.
Mas o que essas mulheres têm a nos dizer atualmente? Creio que muitas coisas que os saberes clássicos concentraram nas vozes masculinas, embora saibamos não sejam eles a única forma de revelar o pensamento filosófico ou divisar a dimensão humana numa sociedade plural onde, atualmente, as interpretações não se vinculam mais às teorias biológicas e as atenções estão voltadas não apenas para o masculino e o feminino, mas também para outros gêneros.
O importante nessa proposta cognitiva é a expressão do sentimento da vida, do viver filosófico, ainda que a felicidade ceda lugar a eventuais momentos de tristeza. Neste salutar acaso simbiótico, o fundamental é manter a felicidade como contraponto da razão, pois, conforme o comediógrafo grego Menandro[27], “uma pequena gota de felicidade é melhor que uma tonelada de razão.”
Pode parecer espantoso, mas a vida tem seus parêntesis. Para o filósofo, qualquer sentimento é útil porque o ensina a fazer algo, considerando que o sentir é introspectivo, recôndito; e o fazer é manifesto; ostensivo, ou seja, é revelado.
Preferimos a alegria, sinônimo de uma festa, à tristeza, atributo da rejeição. A alegria é sempre bem-vinda; a tristeza é evitada, mas os dois sentimentos são benéficos à sabedoria humana. Estar alegre é um convite eterno ao regozijo; estar triste é fazer uma viagem ao mais profundo declínio de nossa euforia.
Daí porque não é inexata a pretensão de asseverar que sentir ensina, molda, renova, acrescenta e eleva a alma, porque é um verbo que se conjuga para dentro de nós mesmos; ao contrário de fazer, que é declamado para fora. Portanto, triste é não sentir nada.
Assim sendo, o que não podemos é admitir dizeres ou raciocínios fracionados ou incompletos retirados de parte de um contexto. A frase ou a ideia não pode ser reticente, parentética ou deturpada, a exemplo do que tem sido feito com o texto de Simone de Beauvoir[28]. Como respeitável filósofa, ela nasceu mulher; não tornou-se mulher. Ela era inteiramente mulher, porque cumpriu todos os requisitos da feminilidade.
Como é de sabença geral, o campo filosófico nem sempre foi aberto para as mulheres. Embora exista uma enorme fertilidade cultural feminina, a discrepância com o masculino, ligado ao padrão do sexo biológico, é evidente com reflexos no próprio ambiente da filosofia feminina.
Por essa razão, Liria Ângela Andrioli[29] enfatiza que “ao realizar um resgate sobre a presença das mulheres na história da filosofia, percebe-se que a figura do feminino é discutida por meio de um sujeito que não é o que a representa, mas sim outro sujeito: o sujeito masculino. Mesmo assim, este discurso é sempre evitado no campo filosófico.”
Nesse particular, observam-se disparidades no próprio movimento feminista entre mulheres brancas, negras, indígenas, latinas, europeias, etc, que suscitam privilégios, discriminações, racismos, opressões e uma série de preconceitos raciais, sociais e políticos que criam divergências, quando não rivalidades de cunho científico ou ontológico, considerando que a mulher, desde a antiguidade grega, carregava um rótulo aviltante de cruel submissão e era definida pelos filósofos “com características e atribuições negativas, como a figura que detém o mal, com atitudes capciosas, um ser incompleto.[30]”
Esses erros de interpretações, baseados especialmente em padrões biológicos, possibilitaram a descoberta de equívocos históricos e o resgate, na atualidade, de uma identidade do feminino que vai além do masculino e de outros gêneros, possibilitando o afastamento da antiga visão deturpada[31] e a conquista pela mulher filósofa do espaço que era seu de direito desde as antigas civilizações, como a egípcia e a grega.
Muito embora a mulher tenha sido impedida de participar amplamente da vida pública, filósofos pré-socráticos, como Pitágoras e Tales de Mileto, receberam ensinamentos de mulheres, dentre elas Teano de Crotona[32] e Temistocleia de Delfos. Sobre a primeira, consta que teria apresentado a Pitágoras uma teoria que tornou-se famosa sobre a metempsicose, a qual consiste na imortalidade da alma. Essa teoria foi absorvida pela filosofia platônica. Sobre a segunda mulher, sabe-se que foi a fonte da maior parte das doutrinas morais e éticas de Pitágoras, que “incluem a ideia de superioridade da natureza intelectual sobre a natureza sensorial, a noção de cosmos harmônico e até mesmo essa importante teoria da metempsicose.[33]”
Nesse pormenor, destaco também a figura de outras mulheres como Diotima de Mantineia, conhecida como a “Mestra do Mestre” por haver sido professora de Sócrates e ensinado a ele tudo sobre Eros[34]. Por essa razão, exercia um status de autoridade intelectual sobre Sócrates, o filósofo do método dialético[35] e da maiêutica.
Com efeito, é de autoria de Sócrates a seguinte frase:“deve-se temer mais o amor de uma mulher, do que o ódio de um homem”. Dificilmente um homem, mesmo sendo um renomado filósofo, pensaria numa frase tão incisiva sobre a cólera feminina, como esta de autoria do grande filósofo Sócrates, se não tivesse convivido e aprendido tudo sobre o amor com uma mulher.
O enunciado de Sócrates, ensinado por Diotima de Mantineia, configura a pulsação do descontrole emocional e a invisível força perturbadora de Eros. Propõe, de forma taxativa, um diálogo incoerente entre o amor e a paixão, cuja inflexibilidade pode desafiar, para um definitivo e trágico duelo, a vida e a morte, pela ingerência de um consórcio ambíguo, contraditório, paradoxal e polêmico entre a razão e a emoção.
No sentido filosófico, médico, terapêutico ou psicopedagogo não é equivocado afirmar que a emoção é um fator mais acentuado na mulher, porque “o útero é o principal receptor das emoções femininas. É como se ele fosse o coração da mulher[36]”. Vale acrescentar também que no útero está contida a pulsação da vida, porque ele representa a potência da mulher. É como se um outro coração conexo aí se encontre batendo bem mais forte do que o existente no tórax.
Esse órgão indolor que se localiza na parte baixa da barriga é uma benção e fonte de energia feminina porque, apesar de os ovários serem responsáveis pela produção dos hormônios, compete ao útero não apenas gestar filhos, mas também amores, paixões, ódios e cóleras. É, portanto, através do útero que a mulher manifesta as contrações vagínicas de seus desejos, anseios e contrariedades. Por isso, o útero pode ser doce, agridoce e amargo quando as emoções femininas explodem.
Na verdade, o ser humano é movido por sentimentos, dentre os quais as emoções que, no dizer de Nevita Luna[37], “são forças animais desprovidas de pensamento.” Portanto, como as emoções são forças estranhas ao pensamento e alheias à razão, a mesma autora[38] obtempera que essa inconciliação “está ligada à ideia de que a emoção seria ‘fêmea’ (mais próxima do extinto animalesco, mais imergida no corpo) e a razão, ‘macho’.”
E já que estamos também falando de instinto animalesco, não seria de todo irrazoável apostilar, com todas as vênias, que a emoção é um sentimento resultante das contrações vagínicas e uterinas dos mamíferos[39].
Mas não foi somente Diotima de Mantineia quem muito ensinou a Sócrates sobre o amor e a sabedoria. Uma outra mulher chamada Aspásia de Mileto, célebre pela sua admirável habilidade política e a capacidade de discursar em público, ensinou retórica para Sócrates. A dialética socrática pode ter sido resultante da convivência com essa extraordinária mulher que, além de possuir habilidades como música, canto e dança, tornou-se preceptora e amante de Péricles (administrador de Atenas), ensinando-lhe tudo sobre política.
Não há dúvidas de que existem muitos ensinamentos e textos escritos por mulheres que mantiveram-se anônimas por muitos séculos. Isto não é um preconceito somente vivenciado nos primórdios dos tempos. Temos registro, no próprio século XX, de mulheres que contribuíram para os trabalhos de homens de ciência, como a esposa de Albert Einstein[40], que exerceu decisiva influência nas pesquisas dele e apresentou valorosa contribuição sobre a teoria da relatividade, cuja autoria é atribuída a esse grande pesquisador e cientista.
Seja essa história real ou fantasiosa, controversa ou incontroversa, o certo é que, parodiando Gagnon[41], “apagar da história da ciência mulheres brilhantes como Mileva não ajuda no trabalho de demonstrar que nós mulheres somos tão capazes quanto os homens.”
Por essa razão, o que importa é resgatar o nome dessas notáveis mulheres que sofreram na obliquidade soberba dos homens que se aproveitaram do conhecimento delas, mantendo-as no completo anonimato sem direito a reivindicarem qualquer crédito sobre a cooperação que deram para o progresso da ciência, visto que a regra era a preservação da hegemonia masculina.
Cansada de assistir suas ideias serem indevidamente apropriadas por varões, a mulher passou a usar sua própria linguagem para, sem a conotação viril e insolente do homem, expressar - ela mesma - a sabedoria que promana de sua verve feminina, sem se preocupar com o estilo exaltado que caracteriza a valentia misógina.
A mulher filósofa, com esse perfil elegante, outorgou a si mesma o atestado que lhe garantiu a autonomia para ombrear-se ao homem filósofo ou superá-lo, sem precisar esconder-se atrás de pseudônimos ou de símbolos por temor a hostilidades, muito menos críticas ou sabatinas masculinas dos que outrora, comparsas e propagadores de suas ideias geniais, bebiam dos conhecimentos que escorriam de suas mentes brilhantes, contudo as menosprezavam e subjugavam.
5. A filosofia como história e felicidade humana
A história da filosofia é a nossa própria história. Estudamos a história da filosofia para entendermos a nossa própria existência como ser humano. Por essa razão, não é errado dizer que a vida deve ser vivida filosoficamente.
Existe uma lógica nessa assertiva, porque a história da filosofia é inquestionavelmente a história do pensamento, considerando que para filosofar é necessário ter existência humana e pensar – cogito, ergo sum.
Quanto a mim, posso afirmar que quanto mais estudo e penso que aprendo sobre algum assunto, mais me convenço que menos eu sei. Contudo, somente podemos evoluir culturalmente a partir do aprendizado que vamos acumulando ao longo de nossa existência. Isto é que nos confere a chamada sabedoria.
Muito antes de Pitágoras dar nome ao que conhecemos como filosofia, o amor à sabedoria já existia. E não eram os denominados filósofos que ensinavam ou proclamavam essa sabedoria, visto que para ensinar não precisa ser doutor, mestre, especialista, sábio ou professor, mas apenas ser culto, ter conhecimentos, racionalidade, prudência e experiência de vida.
Talvez por isso muitas pessoas, independentemente da época, da idade, da etnia, da cor, da origem, do sexo, do gênero, do lugar, veem na filosofia algo tão fascinante e enigmático, posto que sua atemporalidade nos convoca sempre a adotar novos paradigmas mediante o rompimento de conceitos clássicos ou a editar novas concepções a partir de ideias já superadas e preconcebidas.
Muitas pessoas têm ideias equivocadas sobre o que seja filosofia. Imaginam que a filosofia é um pensamento abstrato, ilusório e irreal, em resumo, algo totalmente alheio às coisas da vida. Assim, atribuem à filosofia uma sequência de palavras enigmáticas, de difícil compreensão, que fogem à realidade palpável, vale dizer, algo como um emaranhado de pensamentos desconexos que nada têm a ver com a realidade que se vive.
Mas enganam-se os que assim pensam. A filosofia possui metodologia própria, embora, por vezes, se apegue a conceitos abstratos. Ela está diretamente ligada a nossa existência prática da vida, pois viver é filosofar. Portanto, ninguém precisa ser um pontífice de virtudes para ser filósofo. A corrente helenística de filosofia conhecida, na antiga Grécia, como cinismo, que teve o inconveniente filósofo Diógenes, como um dos grandes luminares, é um belo exemplo disso.
Por isso é que muitos indivíduos, embora não tenham frequentado nenhuma faculdade para obter o grau de filósofo, conseguem filosofar, pois a filosofia é uma atividade que revela, dentre outras coisas, os saberes adquiridos pela própria experiência de vida, a partir da sabedoria que o ser humano vai acumulando, ao longo da sua existência, independentemente do conhecimento da doutrina.
Isto se dá pela capacidade de as pessoas se sentirem livre para professar seus pensamentos, os quais, após revelados, passam a integrar o domínio público. Por essa razão, comungamos com Baron D’holbach[42] ao afirmar que “El filósofo no es propietario de sus ideas.”
É óbvio que um filósofo teria que publicar trabalhos para tornar pública suas ideias. Mas, em épocas remotas, nem sempre o verdadeiro autor do texto assumia sua autoria com receio de sofrer grave censura, discriminação ou punição. O medo contribuía para “que la mayoría de los trabajos se publicaban anónimos, con pseudónimos y siempre com grandes riesgos[43].”
As mulheres que nos ensinaram o que é filosofia dentro de nossas casas, embora aparentemente submissas ao patriarcalismo radical, nunca se sentiam tristes, nem tinham a escrita como forma de compartilhar seus ensinamentos, porque não eram baseados na cultura grafocêntrica. Por isso mesmo, conseguiam lecionar diariamente, aplicando seus escólios verbais e ágrafos, enquanto exerciam atividades domésticas sem se preocuparem em difundir seus conhecimentos na forma escrita, simplesmente porque a maioria delas era iletrada.
Como tudo que é belo não pode ser aprisionado, as mulheres a que me refiro, as quais não podem ser chamadas de escritoras, deixaram seus legados com a essência da simplicidade, considerando que a beleza e a sabedoria são naturais e não precisam de leis escritas, nem de ordens legais para afirmarem-se perante o mundo.
Talvez seja por essa razão que os provérbios criados por essas mulheres incógnitas, que não foram ouvidas, nem enxergadas em suas épocas, são mais populares do que os apotegmas filosóficos e mais fáceis de assimilação por conta da prática cultural e costumeira das expressões, notadamente por grupos de pessoas que vivem em comunidades ou territórios remotos e perpetuam memórias afetivas longínquas.
Essa riqueza filosófica revela sentimento multissecular e configura a maior beleza humana exatamente porque, assim como um pássaro que canta e encanta livre na natureza, não pertence a ninguém, ela é de uso comum; não está nos livros, nem nas obras dos maiores filósofos da humanidade. E somente resiste até nossos dias e continuará existindo para a posteridade porque, a exemplo do canto do pássaro livre que gorjeia todas as manhãs, no jardim ou na janela de nossas casas, acordando-nos para um novo dia, o tempo não a apagará, porque é propagada diariamente às novas gerações de forma verbal como história e sabedoria de vida.
Quem vive filosofa e quem filosofa vive. Isto não é um trocadilho de palavras, mas uma inequívoca realidade. Na verdade significa apenas que é no ato de viver que se filosofa e que todo ato de filosofar é um ato da nossa vida. Não é à toa que os antigos romanos, com muita sabedoria, diziam “primo vivere, deind philosophari”, ou seja, primeiro viver, depois filosofar.
Na praticidade romana se colocava o filosofar como um segundo passo, como uma sequência do viver; mas ao estarmos vivendo estamos filosofando, porque estamos sempre procurando raciocinar com sabedoria. Esta precedência a que os romanos se referem significa apenas que o ato de filosofar pressupõe e antecede o ato de viver, o estar vivo como ser pensante, o levar a sério a vida com todos os seus desafios e com todas as suas consequências. Em suma: nos sentirmos felizes. Por isso, com justa razão, o filósofo Baron D’holbach[44] preconiza que “la filosofia debe estar al servicio de la felicidad.”
Com efeito, pelo fato de passar o dia inteiro filosofando nos espaços públicos, o célebre filósofo Sócrates era conhecido como “mosca de Atenas”, haja vista ser tachado pelos cidadãos como alguém que incomodava ou molestava os transeuntes com o seu método dialético conhecido como maiêutica, o qual consistia em indagar continuamente as pessoas sobre diversas questões que permeiam a existência humana e o sentido das coisas em face dos saberes que vamos acumulando ao longo da vida.
De volta à sua casa, tinha sempre à sua espera a esposa Xantipa, uma mulher de gênio irascível e invejável capacidade persuasiva, que, numa intrépida e sanguínea eloquência, causava apositia ao célebre filósofo. Os gritos estridentes e altissonantes de Xantipa provocavam, ao mesmo tempo, horror e satisfação a Sócrates, visto que ela, fugindo à imposição misógina, exaltava-se num discurso rebelde de insubmissão feminina, impingindo-lhe flagelos e uma espécie de código de terrores. Enquanto isso, o criador da maiêutica, num contragolpe silencioso de inocência, observava toda a cena, a fim de resgatá-la para o exercício de suas próximas aulas sobre retórica, autodomínio, autoconhecimento e virtudes nas ruas e praças de Atenas.
O exemplo de Xantipa traduz a prova de que o homem filósofo evitava o confronto com a mulher filósofa para não ser excluído ou derrotado no debate. Ele temia a ausência de sobriedade feminina no torneio dialético durante a tentativa de arrancar-lhe uma confissão expressa sobre a incompatibilidade da tese exposta em relação a uma verdade cuja negação é impossível. Era como se o pânico freudiano ameaçasse a tranquilidade socrática.
6. Conclusão
Não foi e não será minha pretensão, com este modesto estudo, revolver o passado como apanágio de um ser humano que tenha permanecido preso a uma distante e prolongada infância da qual não deseja se libertar.
Apenas posso dizer que quando o prazer de lembrar coisas boas do passado é igual a um laço difícil de desamarrar, o homem sempre retorna o pensamento para as paisagens reluzentes onde lampeja o clarão adamantino que, necessariamente, manterá atado o nó desse elo inquebrantável para o fim de alcançar uma das metas da felicidade, principalmente quando parece ser útil para o seu bem-estar e para sua memória afetiva.
No entanto, por tudo que foi examinado, é imperioso concluir este estudo rendendo justa homenagem às mulheres, cuja cultura filosófica nos foi transmitida pela oralidade, assim como o fez Sócrates, que nada deixou registrado por escrito. Elas nos ensinaram, no estágio infantojuvenil de nossa vida domiciliar, com a blandícia das frases adverbiais e o pendor natural das preceptoras diligentes. Eram mestras de si mesmas e de todos nós, iluminadas pelo clarim da retórica e da improvisação dos hinos fabulosos que o prosaísmo das faxinas domésticas inspiravam.
Essas aulas diuturnas eram unificadas em saberes populares que resumiam todos os provérbios da vida humana numa só ideia: a de que a mulher, com sua vocação procriadora e educadora, se tornava a pessoa mais importante numa família, embora prevalecesse o mito de que o homem autoritário, como pater familiae, é quem exercia o papel de maior relevância na organização social e familiar.
Numa linguagem metafísica, sinto frequentemente a necessidade de lembrar daqueles tempos memoráveis como inesquecível sonho de uma noite infindável. Por ser pura realidade, não desejo recordar como um devaneio ou uma saudade dissimulada, mas como um quinhão que a vida me legou no rico inventário de minha existência.
Destarte, com absoluta precisão, “O Mestre Eckhart”[45], citado por Philippe Julien[46], vaticina que “a palavra mulher é a mais nobre que alguém possa atribuir à alma”. Concordo com a reflexão do referido mestre, porque a locução “mulher” reúne, num só vocábulo, uma série inesgotável de princípios e de valores inerentes ao gênero feminino.
Portanto, é chegada a hora de pedirmos desculpas às mulheres filósofas, sobretudo às que permaneceram incógnitas, anônimas ou encobertas a contragosto no passado, subjugadas pela imponderável hegemonia masculina de sua época, não obstante ensinassem, sem preferência de sexo ou de gênero, a homens e mulheres do seu tempo, o conhecimento que detinham com proficiência.
Sem olvidar qualquer outra razão para, nós homens, merecermos esse sentimento indulgente, ocorre-me simplesmente a circunstância de que exaltar essas filósofas não se trata de mero louvor à mulher, dado que “o elogio é o abutre da alma[47]”, mas de um indispensável tributo pelo fato de que “as desculpas são como um perfume sublime; elas podem transformar o momento mais desgostoso num presente maravilhoso.[48]”
Para concluir, manifesto aqui meu gesto de gratidão a todas as mulheres filósofas que conheci na minha infância, notadamente por ter sido educado numa espécie de estufa doméstica. E o faço na pessoa de uma admirável mulher que me gestou a vida intrauterina, no caso minha mãe[49], também amiga da sabedoria. Dela recebi a primitiva bênção com beijo na mão e aprendi as primeiras orações, persignando-me genuflexo, na forma litúrgica, a cada gesto de contrição com Deus.
Convicto também estou de que ela me ensinou o alfabeto da vida, corrigindo-me a fonética e a ortografia do idioma, bem como a pronúncia da linguagem desde o “á-bê-cê”, como se me dissesse: “vais conhecer o mundo”, preparando-me para um dia sair da bolha onde recebi benfazejos cuidados angelicais e os primeiros escólios maternos.
Sei que isto é muito pouco para render graças a quem sou infinitamente devedor, mas honra-me fazer esse reconhecimento póstumo a quem me carregou, me amamentou, me embalou e me ensinou inúmeras vezes, considerando que ela não está mais entre nós para escutar minha voz, dizendo-lhe: Deus lhe pague minha mãe por todos os ensinamentos que recebi!
[1] Professor de Direito Processual Penal da Universidade Federal do Maranhão - UFMA. Juiz de Direito Titular da 8.ª Vara Cível em São Luís-MA. Membro da Academia Maranhense de Letras Jurídicas. Especialização em Processo Civil pela UFPE. Especialização em Ciências Criminais pelo UNICEUMA. Doutor em Direito e Ciências Sociais pela Universidad del Museo Social Argentino - UMSA.
REFERÊNCIAS
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[1] Fustel de Coulanges. A Cidade Antiga. Tradução: Fernando de Aguiar. 4.ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998, p. 85.
[2] O Segundo Sexo. São Paulo: Nova Fronteira, 2019, p. 167.
[3] Natasha Hennemann e Fabiana Lessa. Filósofas: o legado das mulheres na história do pensamento mundial. São Paulo: Maquinaria Editora, 2022, p. 200.
[4] A face oculta de Eva: as mulheres do mundo árabe. Tradução: Sarah Giersztel Rubin, Therezinha Elbert Gomes e Elisabeth Mara Pow. São Paulo: Editora Global, 2002, p. 198/199.
[5] A feminilidade velada: aliança conjugal e modernidade. Philippe Julien. Rio de Janeiro: Companhia de Freud Editora, 1997, p. 30.
[6] Nawal el Saadawi. Op. Cit., p. 222.
[7] A alfabetização e a escolarização não constituem requisitos indispensáveis para a manifestação das diversas formas de cultura humana, considerando que a inteligência individual não revela sua expressão característica apenas em decorrência do letramento da pessoa, mas também em função de sua capacidade para desenvolver habilidades decorrentes dos dons que lhes são inatos. A propósito, conheço várias pessoas que são alfabetizadas e graduadas, em variados cursos superiores, que não possuem a capacidade para compreender ou desenvolver trabalhos ou tarefas realizadas por pessoas iletradas.
[8] Tales nasceu na cidade de Mileto (território que, atualmente, pertence a Turquia). É considerado o primeiro filósofo do ocidente. Pertenceu à escola Jônica de filosofia, no período pré-socrático. Era comerciante de sucesso. Por essa razão, fez várias viagens a inúmeras regiões limítrofes à antiga Grécia, permitindo-lhe conhecer a cultura de outros povos, notadamente a do antigo Egito, onde esteve diversas vezes e de onde trouxe a matemática para a Grécia antiga. Foi o primeiro filósofo que aplicou princípios matemáticos à filosofia para explicar a origem do universo, rompendo com a crença baseada na mitologia grega sobre a origem da natureza.
[9] Pitágoras, filósofo e matemático grego, cujo nome deu origem a vários teoremas, fez inumeráveis viagens de estudo ao antigo Egito. Aristófanes afirma, em uma de suas obras, que Pitágoras foi aluno da sacerdotisa TEMISTOCLEIA DE DELFOS, que ensinou a ele doutrinas morais e éticas. Consta também que Pitágoras foi professor de uma pitagórica chamada TEANO DE CROTONA, com a qual casou-se posteriormente e teve três filhas, que também tornaram-se filósofas pitagóricas.
[10] Pitágoras e os seus discípulos, chamados pitagóricos, eram conhecidos como filósofos-matemáticos, mas se pronunciavam sobre qualquer assunto como: astronomia, música, natureza, sociedade, ética, moral, direito, justiça, etc.
[11] Platão em seu livro O Banquete escreveu, em determinado parágrafo, que Sócrates aprendeu tudo que sabia sobre Eros com uma sacerdotisa chamada DIOTIMA DE MANTINEIA, que teria sido sua mestra sobre o assunto. Do mesmo modo, o historiador Plutarco relata que ASPÁSIA DE MILETO foi professora de Sócrates e ensinou tudo sobre a arte da eloquência e da retórica a ele.
[12] Duas mulheres: AXIOTEIA DE FILOS e LASTÊNIA DE MANTINEIA foram alunas de Platão. AXIOTEIA frequentava a Academia platônica vestida como homem. Isto ocorria porque ela era estrangeira e para evitar escândalos nas reuniões entre os círculos masculinos, ambiente em que queria ser aceita.
[13] O filósofo austríaco Theodor Gomperz (Os Pensadores da Grécia: história da filosofia antiga. Tomo III, 3.ª ed. São Paulo: Icone Editora, 2014, p. 26/27) afirma que Aristóteles passou sua infância no reino de Filipe, pai de Alexandre, O Grande da Macedônia. Assinala também que Aristóteles morou em Assos (Turquia - onde casou-se com Pítias, sobrinha do rei), em Mitilene (capital de Lesbos) e Mieza (Reino da Macedônia – Santuário das Ninfas, divindades femininas). Esteve também no Cairo (Egito). De acordo com esse autor, após ter saído de Atenas, como aluno de Platão, Aristóteles acrescentou aos conhecimentos adquiridos na Academia platônica os adquiridos em suas estadas nas cidades retromencionadas (Op. Cit., p. 40).
[14] Senhoras Donas: economia, povoamento e vida material em terras maranhenses (1755/1822). São Luís: Café & Lápis – FAPEMA, 2010, p. 27.
[15] Safo era uma poeta que bem cedo representou o único grito de independência feminina na Grécia antiga dominada por homens. Por força de suas ideias libertárias foi tachada de homossexual. Atualmente, a palavra lésbica, como sinônimo de homossexualismo feminino, deve-se ao fato de Safo haver nascido na ilha de Lesbos, porém não há nada provado contra Safo nesse sentido. Essa questão tomou proporções em face de comediógrafos gregos que pretendiam achincalhá-la em virtude de suas posições libertárias e avançadas para a época em que viveu.
[16] É importante registrar também que Safo fundou a primeira universidade feminina de que já se teve notícia, chamada “Residência das Discípulas da Musa”, onde era propiciada educação não apenas intelectual, mas também uma educação feminina própria da mulher libertária, ou seja, uma educação física. Essa universidade durou enquanto Safo viveu e tinha como objetivo específico estabelecer um ambiente de libertação da mulher na ilha de Lesbos.
[17] A Trilogia Tebana. Tradução do grego, introdução e notas de Mário da Gama Kury. 10.ª ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2002, p. 14.
[18] Op. Cit., p. 14.
[19] As filósofas Natasha Hennemann e Fabiana Lessa afirmam que “TALES DE MILETO é considerado o primeiro filósofo que propôs – após algumas viagens ao Egito – que a essência do mundo (a arché) seria a água.”
[20] Natasha Hennemann e Fabiana Lessa. Op. Cit., p. 29.
[21] Sócrates teve duas esposas. A primeira foi Xantipa (Sócrates a considerava sua mestra em face do gênio irascível e a capacidade argumentativa dela, que contribuiu decisivamente para o grande filósofo exercitar seu autoconhecimento e a paciência); a segunda chamava-se Mirto.
[22] Platão não era casado, mas admitiu em sua Academia a presença de mulheres, como Axioteia de Filos (que frequentava a Academia platônica vestida como homem) e Lastênia de Mantineia, que era colega de estudos de Axioteia. Foi discípulo de Sócrates e fundou uma escola filosófica chamada Academia.
[23] Aristóteles era casado com uma mulher de nome Pítias. Em Delfos, o mais conhecido dos templos oraculares de Apolo, as sacerdotisas eram chamadas de Pítias ou pitonistas e gozavam de status de autoridade intelectual em função do seu contato direto com os deuses e por serem “portas vozes” das mensagens divinas. Este filósofo fundou sua própria escola filosófica chamada Liceu.
[24] Natasha Hennemann e Fabiana Lessa. Op. Cit., p. 47.
[25] Op. Cit., p. 224.
[26] Meu filho me adora: filhos reféns e pais perfeitos. Tradução: Cláudia Souza. São Paulo: Buzz Editora, 2018, p. 9.
[27] Theodor Gomperz. Os Pensadores da Grécia: história da filosofia antiga. Tomo III, 3.ª ed. São Paulo: Icone Editora, 2014, p. 96.
[28] O Segundo Sexo. São Paulo: Nova Fronteira, 2019.
[29] O corpo e a mulher na história da filosofia: uma leitura a partir de Merleau-Ponty centrada na atual
discussão sobre a corporeidade.
[30] Natasha Hennemann e Fabiana Lessa. Op. Cit., p. 200.
[31] Pensadores e filósofos como Rousseau, Nietzsche, Kant e Schopenhauer também relegavam a figura da mulher a papéis sem expressão, a qual devia viver para agradar ao homem, restritas à vida doméstica, à família e à procriação.
[32] Foi aluna e, posteriormente, esposa de Pitágoras. Ela apresentou teorias sobre a importância dos números e a harmonia do universo. Além disso, explicou a importância da música, enfatizando que “a música terrestre seria um eco da música celeste, das esferas do céu.”
[33] Natasha Hennemann e Fabiana Lessa. Op. Cit., p. 33.
[34] O próprio Sócrates, ao discorrer sobre o assunto, dizia a seus interlocutores que aprendeu tudo sobre Eros (amor) com sua mestra Diotima de Mantineia. Platão, seu discípulo mais famoso, registrou essa informação em seu livro O Banquete.
[35] Existe controvérsia de quem seja o criador da dialética. Alguns historiadores apontam Heráclito de Éfeso como o “pai da dialética”. Outros atribuem a origem da dialética na filosofia de Zenão de Eléia, discípulo de Parmênides.
[36] Kareemi. https://vidasimples.co/vida-pratica/o-utero-e-o-nosso-coraçao/?amp=1.
[37] Luna, Nevita Maria Pessoa de Aquino Franca. Por uma erótica do direito: contradições, diálogos e perspectivas entre direito e emoção. Belo Horizonte: Arraes Editores, 2019, p. 24.
[38] Op. Cit., p. 24.
[39] A referência feita a mamíferos liga-se ao fato de que todo mamífero possui útero e ovários. Portanto, sendo a mulher um mamífero ela manifesta contrações uterinas e vagínicas, conforme as reações emotivas.
[40] A história pouco conhecida da brilhante mulher de Einstein que contribuiu para a teoria da relatividade. Encontrado em: https://www.bbc.com/portuguese/geral-46640237 .
[41] A história pouco conhecida da brilhante mulher de Einstein que contribuiu para a teoria da relatividade. Encontrado em: https://www.bbc.com/portuguese/geral-46640237 .
[42] Sistema de la Naturaleza. Madrid: Editora Nacional, 1982, p. 11.
[43] Baron D’holbach. Op. Cit., p. 16/17.
[44] Op. Cit., p. 49.
[45] O castelo da alma. Paris: Desclée de Brouwer, 1995, p. 16.
[46] Op. Cit., p. 98.
[47] Frase de autoria do filósofo Sócrates.
[48] Margareth Lee Runbeck. A Psicologia da Estupidez. Jean-François Marmion. Tradução de Leonardo Castilhone. São Paulo: Faro Editorial. 2021, p. 296.
[49] Minha mãe biológica chamava-se Gilda da Conceição Figueiredo de Almeida, mas era conhecida pelo hipocorístico “Boneca”, quer em família, quer socialmente.
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