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A Força do Querer
O querer tem mesmo muita força!
A novela da Glória Perez, transmitida pela Rede Globo, mostra de forma muito didática, vários temas que envolvem superação, determinação.
Às claras que a trama de maior relevância é a que escancara a realidade das pessoas trans. Além de trazer uma precisão conceitual de forma ilustrativa, mergulha com muita sensibilidade no drama pessoal, familiar e social de quem vive fora do modelo convencional da divisão binária da identidade de gênero.
Enfim, a enorme força de querer ser feliz!
Há outros temas importantes, como a dependência ao jogo compulsivo; o sofrimento experimentado pelos filhos em face do abandono afetivo dos pais; a falta de glamour da vida dos traficantes de drogas, que restam reféns nas comunidades em que se escondem, por exemplos.
Do mesmo modo, é clara a força das personagens femininas.
No entanto, há um aspecto que, se não chama, deveria chamar a atenção.
Com exceção das mulheres cuja atuação está ligada à atividade profissional (Geisa é policial militar, Biga, secretária; Dita e Zu são domésticas), nenhuma das demais trabalha!
Mesmo as que se qualificam como profissionais (Silvana e Irene, arquitetas), estão sempre disponíveis. Uma envolvida em jogo e a outra, uma criminosa fugitiva.
As demais, nem profissão têm. Independente da classe social a que pertencem, não fazem nada (Joice, Cândida, Shirley, Heleninha, Aurora, Elvira). As jovens sequer estudam (Ivana, Simone, Cybele, Marilda).
Talvez a exceção seja Nazaré, que é cozinheira de um bar.
E também tem Ritinha, cuja profissão é ser sereia!
Já os homens, além de todos desempenharem alguma atividade profissional, geralmente, aparecem nos locais de trabalho.
Bem, esta não é a realidade das mulheres brasileiras, nada justificando que uma novela, ainda que tenha liberdade ficcional, simplesmente ignore a força do trabalho feminino.
Maria Berenice Dias
Advogada
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